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A Psicologia Histórico Cultural

Por:   •  31/8/2018  •  Ensaio  •  4.120 Palavras (17 Páginas)  •  200 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

SABRINA GASPARETTI BRAGA

TROCANDO MEDICAÇÕES POR MEDIAÇÕES: REFLEXOES PRELIMINARES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇOES PSICOLÓGICAS SUPERIORES

São Paulo

JANEIRO, 2015

INTRODUÇÃO

Pretende-se que este trabalho seja inserido como parte de um capítulo em minha tese intitulada “Trocando medicações por mediações: estudo etnográfico sobre o déficit de atenção e domínio da conduta”. Reconhecemos L.S. Vigotski como principal representante da psicologia histórico-cultural e admitimos que esta teoria conta com diversos outros autores importantes que não serão citados neste trabalho. Por isso, o descrevemos como parte de um capítulo com intenções futuras de aprofundamento do conhecimento e da escrita com contribuições de outros autores da referida teoria, quiçá de outras áreas de conhecimento (antropologia, sociologia, biologia).

A tese, referenciada na Psicologia Histórico-Cultural, terá como objetivo geral compreender o fenômeno do déficit de atenção/hiperatividade em sua complexidade, isto é, em relação com as demais funções psicológicas superiores. O método será a investigação das mediações vivenciadas na rede de relações dos sujeitos de pesquisa que (im)possibilitam e/ou (im)possibilitaram o desenvolvimento do controle da conduta e da atenção voluntária. Portanto, com a intenção de apreender a essência do real em movimento será utilizado como método de procedimento para a pesquisa empírica a imersão etnográfica, com permanência no campo buscando apreender o processo em acontecimento. Pretende-se partir do seguinte pressuposto teórico fundamental da teoria histórico-cultural sobre o desenvolvimento da atenção voluntária que é, por ora, também a hipótese central: a qualidade do desenvolvimento da função superior da atenção voluntária está organicamente relacionada a) à qualidade das mediações psicológicas vivenciadas pelo sujeito ao longo de sua história de vida b) ao desenvolvimento das demais funções psíquicas superiores.

Considero o capítulo agora apresentado como central para a defesa da tese, pois buscarei apresentar conceitos fundamentais da obra Vigotskiana, e que servirão de ferramenta imprescindível para a compreensão do real durante o campo.

CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO A PARTIR DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL

O homem é um animal que consegue fabricar ferramentas, falar e criar símbolos. Só ele ri; só ele sabe que um dia morrerá; só ele tem aversão a copular com a sua mãe ou a sua irmã.; só ele consegue imaginar outros mundos em que habitar, chamados religiões por Santayana, ou fabricar peças de barro mentais a que Cyril Connolly chamou arte. Considera-se que o homem possui, não só inteligência, como também consciência; não só tem necessidades, como também valores, não só receios, como também consciência moral; não só passado, como também história. Só ele — concluindo à maneira de grande sumário — possui cultura.

(Geertz, 1980)

Iniciamos com a descrição de Geertz sobre as peculiaridades humanas, pois na teoria histórico cultural tais peculiaridades são centrais tanto para serem explicadas como para explicarem como acontece o processo de desenvolvimento da consciência humana. A teoria histórico-cultural busca explicar o processo de aculturação e como neste processo – que possibilita o desenvolvimento do controle da conduta – o homem transforma a natureza ao mesmo tempo em que se transforma. Portanto, concordamos com Pino (2005) quando este autor diz que a cultura é “ao mesmo tempo a condição e o resultado da emergência do homem como ser humano”(p.55), compreendendo que a história da transformação da natureza é também a história da humanização.

E dizemos agora, mesmo correndo o risco de parecer redundante, que o homem possui história. Logo no início do Manuscrito de 1929 este é o tema destacado por Vigotski: a história. De acordo com Pino (2000) esta é uma questão preliminar, pois o autor oferece uma teoria da história do homem e da história do mundo no homem. Como se articulam na unidade da pessoa as funções elementares ou naturais e as funções superiores ou culturais?

As funções superiores diferentemente das inferiores, no seu desenvolvimento, são subordinadas às regularidades históricas ... Toda a peculiaridade do psiquismo do homem está em que nele são unidas (síntese) uma e outra história (evolução + história). O mesmo no desenvolvimento infantil... (Vigotski, 2000, p.23).

É no processo de desenvolvimento histórico que o homem social se transforma e transforma seus modos e procedimentos de conduta criando novas formas de comportamento especificamente culturais. Neste processo “o desenvolvimento cultural se superpõe aos processos de crescimento, maturação e desenvolvimento orgânico da criança, formando com ele um todo. Tão somente por meio de abstração podemos diferenciar um processo de outro”. (Vigotski, 1996, p.35)

A síntese de duas histórias a que Vigotski se refere diz respeito à filogênese e a ontogênese, isto é, a história pessoal (desenvolvimento cultural) sem deixar de ser obra da pessoa singular, faz parte da história humana. A transformação que acontece na dimensão ontogenética é um caso particular da que ocorre na filogenética e, ignorar esta premissa, constitui equívoco fundamental dos trabalhos em psicologia do desenvolvimento da criança. (Pino, 2000)

Aliás, Vigotski criticou de forma veemente a maneira reducionista que muitas vertentes de conhecimento da época utilizavam para compreender as funções psicológicas superiores. Qualifica muitas ideias da psicologia tradicional como errôneas e unilaterais, pois que incapazes de considerar fatos de desenvolvimento histórico, “confundindo o natural e o cultural, o natural e o histórico, o biológico e o social no desenvolvimento psíquico da criança, dito de forma breve tem uma compreensão radicalmente errônea da natureza dos fenômenos que estuda” (Vigotski, 1996, p.11)

Destacamos que no momento em que faz a crítica, assim como ao longo de toda sua obra, Vigotski busca superar os conceitos defendidos por outros autores ao mesmo tempo em que os incorpora à sua teoria, isto é, reconhece que

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