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A questão da Psicopatologia na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa: Dialogos com Arthur Tatossian

Por:   •  22/11/2022  •  Resenha  •  1.500 Palavras (6 Páginas)  •  143 Visualizações

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Análise Clínica e Processos Psicoterápicos em Abordagem Centrada na Pessoa

Prof. Márcia Soares

Aluna: Sofia da Silva Souza

Resenha: A questão da Psicopatologia na perspectiva da Abordagem centrada na Pessoa: Diálogos com Arthur Tatossian.

O artigo referência desta resenha, intitulado: A questão da Psicopatologia na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa: Diálogos com Arthur Tatossian, de 2013, de autoria de: Camila Pereira de Souza, Virgínia Torquato Callou e Virginia Moreira, nos propõe pensar sobre o campo dos transtornos mentais a partir das possíveis contribuições da psicopatologia fenomenológica de Arthur Tatossian, um psiquiatra francês que priorizou uma pratica clinica construída sobre e na experiência, nos levando a uma compreensão mais humanística do indivíduo adoecido, passando também pelas contribuições de Carl Rogers para a psicopatologia pautando-se nos seus conceitos de tendência atualizante, e pessoa em funcionamento pleno.

Discussões a respeito de transtornos mentais são sempre de grande relevância, principalmente quando se trata de um olhar mais humano sobre a questão, no mundo atual em que vivemos, onde costumamos rotular todas as coisas, precisamos cuidar para não reduzirmos o ser humano a simplesmente um rótulo, promovendo assim uma perigosa desumanização do sujeito. Como aponta Martins (2003) essa desumanização acaba levando a um distanciamento entre o clinico e o cliente, e esse distanciamento acaba por dificultar a simbolização da doença pelo indivíduo adoecido, atingindo também o próprio profissional. O estigma social em relação ao sofrimento psíquico também causa efeito negativo ao sujeito rotulado, crenças oriundas do senso comum embasam mudanças atitudinais da população em direção às pessoas categorizadas por esse rótulos (Matos 2018).

Ao introduzir o artigo as autoras passam pela determinação histórica da loucura, pontuando como esta foi compreendida ao longo do tempo, passando desde de uma forma de possessão demoníaca na Idade Média, até ser compreendida como doença mental pela psicopatologia. Nesse percurso histórico aponta-se um erro grave da psiquiatria ao dualizar mente e corpo, como se agissem separadamente, pecando em uma compreensão real de quadros psicopatológicos. Segundo Pereira (1984).

¨o propósito da ciência, desde suas origens na ideologia racionalista da sociedade burguesa nascente, era o de livrar os homens do medo e da superstição, suprimir os mitos e a imaginação por meio do saber. Pretendia fazer dos homens senhores, como dizem Adorno e Horkheimer. No entanto, a crescente racionalização do mundo levou o homem a perder a crença nos poderes mágicos, nos deuses, nos demônios, aboliu o sentido do sagrado e o recurso ao encantamento divino, pois a natureza cientificizada é uma natureza dominada pela técnica produtivista e pela racionalidade cientifica despoetizadora. Com a crescente racionalização do mundo, o homem tronou-se senhor de uma natureza desencantada, onde a loucura não encontra um lugar. Ou melhor, o lugar pra ela reservado é o espaço da exclusão¨ (p.96).

        É, portanto, nesta brecha epistemológica que o saber médico deixa, que a Psicologia passa a fazer parte da discussão sobre os transtornos mentais. Segundos as autoras, não se pode afirmar que Carl Rogers desenvolveu um estudo específico sobre essa temática, mas suas ideias de foco na pessoa em si e não nas categorias diagnósticas de quadros psicopatológicos e suas contribuições acerca da tendência atualizante e o pleno funcionamento do ser humano recaem sobre a pauta em questão, pelo fato de que Rogers afirma que essa tendência à atorregulação e crescimento pessoal é inerente ao ser humano e pode estar presente até mesmo em casos mais graves de sofrimento psíquico, (Van Blarikon, 2008). A estimulação através da confiança imposta pelo clinico ao cliente e o estabelecimento das devidas condições terapêuticas necessárias para a mudança da personalidade, (Rogers 1957/1995) são de suma importância para que o sujeito em sofrimento consiga despertar, ele próprio, o seu amadurecimento, fazendo do terapeuta apenas um facilitador nesta relação e não o ¨detentor da cura¨. Portanto, a proposta de psicoterapia de Rogers, seria eficaz para todos os transtornos mentais. Valido lembrar aqui, que não existem estudos que possam comprovar essa afirmação.

        O caso clinico de Ellen West é citado no artigo como exemplo para evidenciar o pensamento rogeriano acerca do tratamento de transtornos mentais. Comentando brevemente,  Ellen West foi uma paciente psiquiátrica que passou por diversos profissionais na busca pela solução de seus problemas, Ellen não se abre ao mundo; em vez de dominar a situação, ela é dominada e sua existência perde autonomia: os outros exercem uma supremacia negativa com respeito à suas decisões, e Ellen fecha-se num eu dependente, inautêntico e escravo, embora procure demonstrar autossuficiência (Moreira 2005). Ellen acabou por suicidar-se ao não obter resultados convincentes, Carl Rogers (1977), pontua sobre este caso que, nenhum terapeuta por quem Ellen passou, a viu para além da doença, não foi estabelecido um relacionamento pessoa-a-pessoa compreendendo o adoecimento como parte existencial da paciente. As conclusões de Rogers sobre este caso nos fazem refletir que talvez um aprofundamento na fenomenologia seria um promissor caminho para o psicopatologia.

        Antes de expor as contribuições de Arthur Tatossian sobre a psicopatologia fenomenológica, é necessário voltar algumas casas para compreendermos o que de fato é a psicopatologia fenomenológica, esta propõe uma compreensão da dimensão existencial do ser humano, se distanciando do pensamento dicotômico de mente e corpo, presente nos estudos das doenças mentais, o que nos leva ao conceito de Pathos, que possuiu diversos sentidos ao longo do tempo, tendo como sentido principal atualmente, doença e mal-estar, porém, o termo na sua origem corresponde a disposição afetiva fundamental, conforme Heidegger, que é originaria do sujeito e está na base do que é o próprio humano, (Martins 1999). Assim, o patológico sob a lente da psicopatologia fenomenológica vai muito além do que apenas a doença, e sim uma composição da existência humana, assumindo que a doença não é o que define o ser humano, mas uma parte da sua existência.

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