Abordagem Centrada na Pessoa (ACP)
Por: ulissiuss • 26/12/2016 • Resenha • 1.302 Palavras (6 Páginas) • 807 Visualizações
Com base na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), e tendo a Ludoterapia como prática interventiva, a autora M. Axline (1911 - 1988) foi uma das primeiras psicólogas a utilizar a ludoterapia na década de 40. Ela desenvolveu a ludoterapia não diretiva, cujos princípios foram embasados na obra de Carl Rogers, uma abordagem recente centrada na pessoa (ACP).
"Dibs em busca de si mesmo" foi um trabalho que marcou até hoje em dia e a ludoterapia é bastante baseada neste trabalho. O livro conta a história de um menino de 5 anos, chamado Dibs, que comportava-se de maneira desadequada, segundo às normas da sociedade.
Achava-se que ele era retardado mental. Porém após iniciar o processo de Ludoterapia, Dibs mostra-se extremamente inteligente e esperto, ao seguir no tratamento, descobrindo-se como pessoa.
O processo acaba resolvendo as relações afetivas dele com os pais, o que era o foco de sua angústia, de modo a modificá-las e Dibs acaba por se tornar uma criança independente e segura em si próprio. Marcado pela falta de afeto dos seus pais. Defendia-se calando-se, e escondendo-se no seu próprio mundo, evitando quem o pudesse magoá-lo, e por isto era visto como portador de alguma doença mental.
"Nunca olhava diretamente para os olhos de uma pessoa, jamais respondia quando alguém lhe falava", "Recusava até ficar com as costas contra a parede e colocava as mãos para cima prontas para arranhar, prontas para lutar se alguém tentasse aproximar-se (...) parecia decidido a manter-se isolado das pessoas" (p.19).
O modo como Dibs e sua família se relacionavam, revelava sua rejeição e não-aceitação logo que nasceu por seus pais. Numa conversa da mãe de Dibs com a terapeuta: "Não tínhamos planejado ter uma criança. Ele desmoronou todos os nossos sonhos", "mas que bebê estranho era ele quando nasceu, tão grande, tão feio, tão grande e sem forma, como um pedaço de qualquer coisa" (p. 111) e "meu marido sentiu-se ofendido com a minha gestação. Sempre achou que deveria tê-la evitado.”(p.112).
Na (ACP), a importância dos meios externos, com relacionamentos de qualidade, estabelecem o desenvolvimento da personalidade do indivíduo. Os relacionamentos são cruciais para a tendência natural para a autoatualização. O pouco de relacionamento afetivo entre Dibs e os pais, e a não-aceitação destes para com ele, retardaram o desenvolvimento "natural" da identidade dele.
Embora o comportamento de Dibs aparentasse a sua condição de doente mental, este demonstrava comportamentos que iam contra essas certezas, como afirma sua professora em uma conversa com a terapeuta. A este respeito, a teoria de Rogers afirma que mesmo em condições contrárias, mesmo sobre os condicionantes mais severos, o humano pode ser agente criativo na realidade que o rodeia, ou seja, este humano é dotado de uma tendência natural para o crescimento. (HIPÓLITO,1991)
Dibs era um menino diferente das outras crianças, sua inteligência, mesmo que ele não a demonstrasse, era notada. Então a terapeuta notou que existiam potencialidades no menino rejeitado por todos, e trabalhando e acreditando na Tendência Atualizante, inerente a cada ser humano, resolve gerar as "possibilidades" favoráveis para que Dibs pudesse progredir.
Percebe-se isso em: "Dentro de mim, trazia, da reunião, um sentimento de respeito e de ansiedade de encontrar Dibs. Havia sido contagiada por uma impaciência confiante e por uma satisfação de procurar ajudá-lo em sua busca (...) destrancaríamos as portas de nossas respostas até aqui inadequadas aos seus problemas." (p. 27) Desde então, Dibs inicia as sessões de ludoterapia, o meio de possibilitar as condições necessárias para a sua busca interior, posto para a terapeuta: "Este recinto poderia proporcionar a cada pequeno uma zona segura onde pudesse extravasar seus sentimentos sem receios, e, assim aceitando-os, entendendo-os, desabrochar a original unicidade de seu ser" (p. 37).
Neste cenário a terapeuta começa a construir com Dibs uma relação autêntica, dando acesso a um ambiente onde ele se sinta aceito e acolhido, um espaço onde ele possa entrar em contato consigo mesmo, e buscar de forma autônoma, o que lhe falta para o seu amadurecimento e crescimento pessoal.
É importante referir o modo peculiar como a terapeuta conduz o processo terapêutico: "Não o estimulei a qualquer atividade. Se o que ele deseja era sentar-se ali em silêncio, assim o faria. Deveria haver algumas razões para agir desse modo" (p.39) e "Desejava que fosse ele quem abrisse os caminhos. Deveria segui-lo, respeitá-lo e entendê-lo. Desejava fazê-lo sentir que a ele caberiam as iniciativas a serem assumidas naquele recinto"(p.57).
É visível a utilização pela terapeuta de um importante pressuposto da teoria de Rogers, a compreensão empática, "um processo dinâmico que consiste na capacidade de penetrar no universo do outro, sendo sensível a mobilidade e significação de suas vivencias" (HIPÓLITO, p.59, 1991, apud SANTOS, 2004), é através desta possível compreender os sentimentos do cliente, acatando o seu próprio tempo, e mantendo abertura frente ás possibilidades que lhe possam seguir.
...