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Humanista

Por:   •  26/4/2016  •  Resenha  •  7.845 Palavras (32 Páginas)  •  655 Visualizações

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BREVE HISTÓRIA DA ABORDAGEM

CENTRADA NA PESSOA[1]

ELIZABETH FREIRE

A Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida pelo psicólogo americano  Carl Rogers, surgiu inicialmente como uma forma de ajuda no campo da psicoterapia. Posteriormente o seu campo de aplicação estendeu-se  a outras áreas dos relacionamentos humanos, como educação e grupos. Apresentamos, a seguir, um  relato sintético da história da abordagem centrada na pessoa, focalizando os aspectos fundamentais do seu  desenvolvimento.

  • Rochester Society:  onde tudo começou

Carl Rogers iniciou seu  trabalho como psicólogo em 1928,  no Rochester Society for the Prevention of Cruelty to Children, uma instituição pública que atendia crianças sem recursos e suas famílias,  encaminhadas pelos tribunais ou pelo serviço social do Estado. Nessa  instituição, Rogers trabalhou durante doze anos com psicoterapia, psicodiagnóstico e orientação familiar. Devido ao seu espírito muito pragmático e crítico, Rogers constantemente se questionava se o que ele fazia estava realmente ajudando aquelas crianças e suas famílias. Em conseqüência desses intenso questionamento, ele foi desenvolvendo uma  abordagem em psicoterapia distinta da que lhe havia sido ensinada em sua formação,   basicamente psicanalítica.

  • Desmistificando a psicoterapia: a gravação pioneira das sessões

Em 1939, como fruto do trabalho desenvolvido em Rochester, Rogers publicou o seu primeiro livro – O Tratamento Clínico da Criança Problema. Devido ao interesse despertado por esta publicação, a Universidade de Ohio contratou-o, em 1940, para ser professor-residente e supervisor de psicólogos em formação clínica. Durante cinco anos, Rogers trabalhou em Ohio lecionando para alunos da graduação e supervisionando os psicólogos que faziam pós-graduação em counseling. Naquela época, a legislação americana não permitia aos psicólogos atuarem como psicoterapeutas – esta era uma atividade restrita a psiquiatras. Para contornar as limitações impostas pela legislação da época, Rogers, em seus primeiros escritos,  denominava o seu trabalho de counseling ao invés de psicoterapia.  O counseling, que costuma ser traduzido para o português como aconselhamento é uma profissão regulamentada nos Estados Unidos e em muitos países da Europa, mas que não possui correspondente no Brasil.

Como supervisor clínico na Universidade de Ohio, Rogers introduziu uma inovadora metodologia: a gravação das sessões terapêuticas. Ele foi o primeiro psicoterapeuta a fazer gravações sonoras de sessões de terapia e a torná-las disponíveis para a comunidade profissional. A aparelhagem utilizada naquela época eram enormes gravadores de rolo e discos de vidro, que precisavam ser  instalados numa sala anexa à sala de atendimento. Com esta atitude pioneira, Rogers contribuiu para a desmistificação da psicoterapia[2], atravessando o labirinto de mistério que rodeava o trabalho dos psicoterapeutas em geral [3]. Com a utilização deste recurso, Rogers e seus alunos puderam investigar e avaliar o trabalho que realizavam como psicoterapeutas com um rigor e profundidade que não teria sido possível  se tivessem utilizado somente os relatos obtidos de memória. Rogers fez o seguinte comentário, trinta e cinco anos depois, sobre o significado desta experiência pioneira[4]:

É impossível exagerar a excitação com que aprendíamos, à medida em que nos apinhávamos em torno do aparelho que nos possibilitava ouvir a nós mesmos, repetindo inúmeras vezes algum ponto intrigante no qual a entrevista fora claramente mal conduzida ou as passagens em que o cliente progredia significativamente. (Ainda considero que esta técnica é a melhor maneira de nos aperfeiçoarmos como terapeutas). Entre as muitas lições que estas gravações nos proporcionaram ... descobrimos que era possível detectar a resposta do terapeuta que fazia com que um fluxo frutífero de expressão significativa se transformasse em algo superficial e inútil. Do mesmo modo, podíamos nos deter na intervenção do terapeuta que levava a conversa tola e superficial do cliente a transformar-se numa auto-exploração.

  • O nascimento da Terapia Centrada no Cliente

Ao fim do ano de 1940, Rogers foi convidado pela Universidade de Minnesota a proferir  uma palestra sobre o tema “Os mais recentes conceitos em psicoterapia”. Nesta palestra, Rogers descreveu uma nova abordagem em psicoterapia, baseada em  sua extensa  experiência clínica na Rochester Society e no material obtido com as gravações de sessões terapêuticas realizadas na Universidade de Ohio. A abordagem apresentada por Rogers possuía as seguintes características:

  1. Esta abordagem confiava intensamente na tendência do indivíduo para o crescimento, para a saúde e maturidade. A terapia era concebida como uma maneira de libertar o cliente para o crescimento e desenvolvimento normal.
  2. dava maior ênfase aos sentimentos do que à compreensão intelectual.
  3. dava maior ênfase à situação imediata do que ao passado do indivíduo.

(d) enfatizava a relação terapêutica em si mesma como uma experiência de crescimento.

Por acreditar que estava simplesmente sumariando e apontando tendências  comuns aos psicoterapeutas de sua época, Rogers ficou extremamente surpreendido com a reação de espanto e perplexidade da platéia. A audiência se dividiu entre os que o criticaram  e atacaram duramente e os que o elogiaram e aclamaram. Foi somente a partir deste dia que Carl Rogers percebeu que a abordagem que ele vinha praticando não era uma tendência comum aos profissionais de sua geração, mas  era uma abordagem  inovadora e revolucionária. Vinte e quatro anos depois, referindo-se a este dia, Rogers[5] escreveu: “Pareceria um tanto absurdo supor que se pudesse nomear um dia no qual a terapia centrada no cliente tivesse nascido. No entanto, eu sinto que é possível nomear este dia e  foi o dia 11 de dezembro de 1940”.        

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