SEM MEDO: UMA ANÁLISE DE SEU PSICOLÓGICO COM FOCO NO ISOLAMENTO SOCIAL
Por: Bruna Oliveira • 7/9/2019 • Ensaio • 1.130 Palavras (5 Páginas) • 194 Visualizações
CENTRO PAULA SOUZA
ETEC CARMINE BIAGIO TUNDISI
Sem Medo: Uma Análise de seu Psicológico com Foco no Isolamento Social
Bruna Oliveira Silva [1]*
1. Introdução
Obra escrita pelo angolano Pepetela, Mayombe possui o mesmo nome da floresta obscura onde “Só o fumo podia libertar-se [..]” (PEPETELA, 2004, p.04). Trata-se de um romance africano escrito a partir de 1970, que aborda as guerrilhas ocorridas na Angola, onde os guerrilheiros lutavam pela independência nacional do colonialismo português.
Tratando-se da floresta do Mayombe, um assunto pouco debatido diz respeito ao caráter antropológico deste romance em relação ao isolamento coletivo e, ao mesmo tempo, particular, onde cada um dos personagens se retira do convívio social e compartilham de diversas experiências ao longo do romance. Na obra, uma das principais personalidades evidentes neste processo de exílio geográfico é interpretada pelo personagem denominado de Sem Medo, que ocupava o cargo de Comandante do Movimento Popular de Libertação da Angola (MPLA) e lutava contra as tropas portuguesas.
1. A Efemeridade Eterna Dos Medos De Sem Medo
O personagem Sem Medo demonstrava-se bastante dedicado em seu dever, possuía boas condutas de liderança, era um homem intelectual e admirado pela maioria de seus companheiros que a todo o momento observava seus movimentos e ações:
Mais uma vez Sem Medo provou ser um grande comandante. [...]
Os guerrilheiros perceberam e admiraram Sem Medo. Os guerrilheiros, na reunião, elogiaram o Comandante pela rapidez com que atuou e pela coragem que deu aos próprios civis. Elogio justo. Eu próprio apoiei. Ele é assim: quando há que defender um camarada, esquece tudo e atira-se para a frente. [...]
Hoje, Sem Medo ganhou o apoio dos guerrilheiros da Base e dos de Dolisie. Não se fala de outra coisa, só se fala do Comandante. Esqueceram que ele é kikongo, só veem que ele é um grande Comandante. (PEPETELA, 2004, p.154)
Para um cargo tão conceituado de líder, Sem Medo não poderia ter em mente nenhum contratempo que o desvirtuasse da liderança da guerrilha naquele lugar, onde seu julgamento ou atitude sobre qualquer ação poderia ser delicada e falho e os companheiros percebendo qualquer erro, poderiam reivindicar esse cargo tão almejado. Porém, ao mesmo tempo que esses guerrilheiros o admiravam, também se questionavam do porquê um homem letrado e intelectual como Sem Medo abandonaria seu curso de economia para adentrar em uma guerrilha e se exilar em uma floresta como o Mayombe.
O que a maioria dos guerrilheiros não tinham conhecimento, é do passado que Sem Medo carregava e que, através de uma posição de liderança e principalmente durantes a participação em guerrilhas, ele gozava de realizações com o intuito de fugir de seu passado, o qual era assombrado pelo fantasma de Leli:
Fui o causador da sua morte, não é isso que ias dizer? Sim, fui o causador da sua morte. Involuntário, mas que importa? Leli viva não me conseguiu reconquistar. Mas a sua vingança foi a sua morte. Ligou-me fatalmente a ela, num sentimento que não é de maneira nenhuma o amor, mas que me amarrou. Hoje não posso amar nenhuma mulher, pelo medo de lhe fazer mal. Quando me interesso por alguém, zás! Há um vidro a separar-me dela, é o medo de voltar a sentir o que senti ao saber da morte de Leli. (PEPETELA, 2004, p 98)
Podemos perceber ao longo da obra que Sem Medo tenta provar a si mesmo que sua ferida já está cicatrizada sendo que, é notório que isso se trata de algo superficial e ilusório, pois volta e meia as aparições de Leli retornam em sua mente, mesmo utilizando de artifícios para se exilar de suas memórias, a dor da perda de sua amada sempre esteve presa a ele. Segundo ponto de vista de Said (2003, p. 54), “Grande parte da vida de um exilado é ocupada em compensar a perda desorientadora, criando um novo mundo para governar”. E é exatamente isso que Sem Medo fez, “governando” os guerrilheiros com eficiência, através de sua liderança no MPLA.
Entretanto, em suas guerrilhas, a aparição de Leli é constante, e sabendo quanto isso lhe afeta, o Comandante utilizava destas aparições como aprendizados para sua vivência, pois quando Leli surge, Sem Medo procura estar mais cauteloso quanto as suas operações e pensar de forma mais clara para que ele consiga sair de ileso dos combates e
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