A PSICOLOGIA DA SAÚDE
Por: Thiy • 22/4/2021 • Resenha • 2.044 Palavras (9 Páginas) • 134 Visualizações
O trato em saúde na atualidade pode ser encarado como um espaço promotor e reforçador de desigualdades, exclusões e ironicamente adoecimentos, tanto físicos quanto psíquicos. Esse sistema de tratamento de doenças focado no médico como figura principal e no uso de medicamentos têm demonstrado uma ineficiência para com o trato da população, pois muitas vezes ele tende a descartar uma série de fatores sociais que se apresentam em conjunto e anteriormente à doença. Esses problemas sociais que não podem ser curados com nenhuma forma de droga são persistentes e fazem com que a maioria dos enfermos volte a adoecer.
Um sistema perverso se desenrola quando a saúde e vida das pessoas passam a se apresentarem apenas como um mecanismo de possível obtenção de lucro, o corpo humano como uma comódite, fazendo com que, no cruel ponto de vista do capital, seja preferível e ideal que as pessoas adoeçam, pois como os negócios funcionam de acordo com mecanismos de oferta e demanda, quanto maior a demanda por saúde maior o lucro dessas empresas. Achei curioso quando em 2016 a farmacêutica Bayer comprou a produtora de pesticidas Monsanto, demonstrando que muitas vezes a mão que produz adoecimentos é a responsável por oferecer a cura.
O artigo “Ivan Illich: da expropriação à desmedicalização da saúde” (TABET, 2017) apresenta um pouco do pensamento de Ivan Illich, apontando para um conceito chave para o compreensão do seu trabalho, a ideia de doenças iatrogênicas, sendo mazelas que afetam indivíduos em decorrência do tratamento médico, tendo suas reverberações em diversas áreas da vida do indivíduo, no tratamento clínico, em contexto social e ou cultural (TABET, 2017). Esse tipo de abordagem acaba por tornar o sujeito cativo dos tratamentos, obrigando-o à em alguma medida estar sempre devedor de alguma prática que irá corroborar com a promessa de uma vida mais longeva, mais confortável, sempre oferecendo a ideia de um “melhor possível” que esta a quem dele. Muitas vezes esse “melhor” não é tão facilmente alcançável, ou porque aquilo não faz parte da cultura, estilo de vida, biotipo do sujeito ou simplesmente ele não terá acesso a esse bem de consumo devido aos preços exorbitantes perpetrados por essa indústria da saúde em todas as suas reverberações.
O artigo também aponta pensamento de Illich em relação à hegemonia médica e a ideia enraizada no senso comum que as práticas de saúde se encontram apenas nas clínicas e hospitais, muitas vezes sendo esquecidos que algumas ações referentes à educação, saneamento e nutrição são geralmente muito mais eficazes no que diz respeito à prevenção e tratamento de doenças. O texto cita casos como tuberculose, cólera, disenteria, tifo, entre outras doenças que tiveram seus controles sendo realizados de forma mais eficaz fora do contexto médico, sendo tratadas com políticas mais adequadas de urbanização de nutrição e educação a respeito das enfermidades.
Atualmente com a pandemia da Covid-19 uma nova abertura para esse tema se apresenta, com a compreensão de que as ações mais efetivas no trato e controle da pandemia se apresentam fora do contexto médico, com medidas referentes a uso de álcool em gel, utilização de máscaras, distanciamento social e, para quem puder, permanecer em suas casas, até porque não existe uma medicação contra o vírus, colocando os médicos como necessários apenas em casos graves, com a realização das intubações. Porém, ainda assim, o viés político do adoecimento em massa não é amplamente discutido pela mídia, onde pouco se cobra a respeito da volta do auxílio emergencial a um valor justo e praticável, ponto crucial para a realização correta da quarentena e diminuição da curva de infecção e consequentemente de mortos. A falta e velocidade da vacinação tomou os holofotes da discussão e novamente voltasse ao caráter médico salvador, sem a compreensão que sem a quarentena e isolamento social o vírus irá realizar mutações e as vacinas disponíveis irão se tornar ineficazes à nova cepa.
Outro problema que o sistema médico ajuda a perpetuar se refere a descriminação racial, já que a saúde se apresenta como um local de poder, e não se pode falar de locais de poder no mundo ocidental esquecendo-se dos processos de colonização e escravização, e seu posterior estigma criado em relação às populações negras. O texto “O peso do corpo negro feminino no mercado da saúde: mulheres, profisisonais e feministas em suas perspectivas” (CARNEIRO, 2017) apresenta uma série de relatos e perspectivas a respeito do corpo feminino negro brasileiro no contexto da saúde. No texto a autora apresenta a idéia de que devido à um contexto histórico/social representado por desigualdades e dívidas históricas, a população negra demanda de um tratamento diferenciado na atenção de saúde, pois estão sujeitos estatisticamente a mazelas de cunho social que se traduzem em problemas em suas saúde, seja devido ao acesso à saneamento básico e moradias adequadas, seja por acesso à alimentação adequada e educação fazendo com que seja possível que medidas preventivas sejam realizadas. Porém o sistema de saúde em sua maioria não apresenta essa noção, essa necessidade de produção de equidade através de medidas direcionadas para a população negra, quando apresentam tendem a fazê-lo de um ponto de vista biológico, dando a entender que os negros simplesmente são mais propensos a essas mazelas, sem levar em consideração todo o contexto social envolvido nas doenças.
Cabe ressaltar que, apesar de haver uma política nacional para a saúde da população negra, a mesma, em certa medida, reitera o lugar de inferioridade deste grupo, ao apontar que esta população é geneticamente determinada a algumas doenças e agravos, sem trazer uma explanação sobre o porquê da prevalência dessas doenças e agravados nesta população. Não leva-se em conta os determinantes e condicionantes da saúde como acesso a trabalho, acesso a renda ou a bens e serviços essenciais para a saúde. Nesse sentido, a autora pontua a necessidade de cuidado quanto ao racismo institucional (CARNEIRO, 20177).
O texto investiga o porquê a taxa de mulheres que morrem decorrentes de gravidez é muito maior quando são negras e como os profissionais de saúde observam esse fato. Os profissionais de saúde em sua maioria brancos contam que não existe diferenciação, não existe preconceito, todos são tratados da mesma maneira, a autora do texto conta que: “Dessa maneira, parecia prevalecer a leitura biomédica da doença e não a importância do marcador social de raça/cor.” (CARNEIRO, 2017). Aquela velha história que muitas vezes não é necessário apenas o tratamento igualitário e sim a busca por um tratamento equitativo, onde os problemas sociais ao qual
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