Politica Externa
Por: Renato Franco • 26/9/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 1.879 Palavras (8 Páginas) • 489 Visualizações
ADMINISTRANDO O IMOBILISMO
(POLÍTICA EXTERNA DE 1828-1844)
A série de tratados firmados pelo Brasil, no afã de se garantir o reconhecimento da independência, fixou as regras do jogo nas relações exteriores do país até o início da década de 1840.
O sistema de tratados fixou os limites de atuação externa brasileiro, não restando muito espaço para inovações e atuações positivas. O respeito às regras do jogo estabelecidas, e sob a vigilância externa, implicava uma política externa não-autônoma, bloqueada para ações e predeterminada, restando ao país, nas palavras de Cervo, administrar o imobilismo no contexto de uma situação de dependência.
No entanto, esse período de imobilidade da política externa assistiu a uma gradativa reação, no plano do discurso com parcos resultados, mas que lançou as condições para sua superação a partir de 1844.
O imobilismo da política externa caracterizou não apenas as relações comerciais com a Europa e os EUA, mas também a política platina do Brasil.
O imobilismo também será superado à medida que o Estado passou por um processo de fortalecimento com uma reordenação institucional.
Entre o fim da década de 1820 e o início de 1840, o Estado brasileiro passa por um período de crise institucional, o que afetou a política externa.
- Abdicação de D.Pedro I
O imperador sofreu um processo de desgaste, tendo seu prestigio diminuído a ponto de em 1831 abdicar do trono.
Diversos fatores contribuíram para esse processo de desgaste: crise financeira, envolvimento da política portuguesa (sucessão do trono), engajando a diplomacia brasileira na questão, descontentamento de setores com o autoritarismo do imperador (fechamento da Assembléia Constituinte; críticas ao Poder Moderador; Outorga da Constituição de 1824).
- Regência (1831-1840)
O Estado brasileiro sofreu um processo institucional de avanços e recuos, variando conforme as relações de poder entre as forças liberais e conservadoras. Aquelas defendiam um processo descentralizador no Estado, enquanto estas defendiam o um Estado centralizado, capaz de garantir a ordem.
Liberal | Conservadores |
Medidas descentralizadoras que possibilitaram a eclosão de diversas revoltas no país | Medidas tendentes à centralização do poder, de forma a restabelecer a ordem, colocada em perigo pelas medidas descentralizadoras. (“Regresso”) |
Guarda nacional (1831) | Interpretação do Ato Adicional (1840) |
Código Criminal (1832) | Restauração do Conselho de Estado (1841) |
Ato Adicional (1834) | Reforma do Código de Processo Criminal (1841) |
Amado Cervo entende que o significado da evolução institucional, em termos de política externa, deve ser compreendido tendo como referência o processo de fortalecimento do Estado nacional, e não na oposição entre liberais e conservadores.
Para iniciar o processo de rompimento com o imobilismo, fazia-se necessário que o Parlamento tivesse maior atuação sobre a temática das relações internacionais, não se restringindo apenas a tratados de troca ou cessão de território, como fora estabelecido na Constituição de 1824.
Cabia, portanto, um fortalecimento do Parlamento no processo de elaboração da política externa. Para tanto, 2 leis foram aprovadas e foram importantes nesse sentido:
- Lei de 1830: estabelecia a obrigação de o Ministério dos negócios estrangeiros de prestar contas ao Parlamento.
- Lei de 1831: Ao prever a competência dos regentes, alarga o rol temático que cabia ao Parlamento analisar no tocante à política externa. Tem-se, assim, um instrumento de controle e de poder no Parlamento no processo decisório da política externa.
Isso ocorreu até a maioridade, após esta a competência para discutir tratados de qualquer natureza passou para o rol do Conselho de Estado. Mas foi tempo suficiente para dar voz à contestação do sistema de tratados desiguais (com reciprocidade ilusória), instalado durante a época da independência.
JOGO DAS REGRAS:
O sistema de tratados da época da independência engessou a política externa brasileira, que se viu limitada pelas regras aceitas por ela mesma. O respeito às regras predeterminou a atuação brasileira, ficando numa condição de dependência e impedida de ser atuante, restando ao Brasil administrar o imobilismo.
As baixas tarifas previstas nos tratados, consoante o corolário liberal, não foram benéficas para o comércio exterior brasileiro.
Apesar de garantir vantagens à Inglaterra e seus produtos, o mesmo não ocorreu com os produtos brasileiros no mercado inglês. O resultado foi um desequilíbrio na balança comercial em favor da Inglaterra. Por outro lado, o comércio com os EUA se mostrava superavitário para o Brasil. Isso se deve a estratégia da diplomacia de buscar, por meio de enviados e missões especiais, abrir mercados para os produtos brasileiros.
Além do objetivo comercial, a diplomacia no período empenhou-se em 2 desafios, que ganhavam proporções maiores por envolver nações mais fortes, que recorriam a ameaças imperialistas:
- Conflito com a Inglaterra no tocante à questão do tráfico de escravos.
- Questão das presas feitas durante o bloqueio do Prata (1825-1828)
1)Tráfico de escravos
À época das negociações para o reconhecimento da independência, a Inglaterra condicionou este a promessa brasileira de extinguir o tráfico negreiro dentro de um prazo. Para isso, o Brasil elaborou uma lei nesse sentido em 1831, mas não obteve os efeitos concretos, tendo em vista a falta de ação decisiva brasileira no sentido de reprimir o tráfico. Outros fatores contribuíram para ser esta lei apenas “para inglês ver”: a opinião pública, em geral era favorável ao tráfico, pois era o meio de se evitar uma paralisia na economia, movida por braços de escravos; o tráfico rendia vultuosos lucros. O Estado brasileiro não reprimiu o tráfico, tendo em vista essas vantagens, além de correr o risco de ser visto como subserviente pela opinião pública, caso contrário agisse.
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