O Caráter internacional da Globalização: ontem, hoje e amanhã
Por: luanapaulags • 7/11/2017 • Artigo • 2.596 Palavras (11 Páginas) • 404 Visualizações
O caráter internacional da Globalização: ontem, hoje e amanhã.
Para o entendimento do caráter da Globalização há diversas perspectivas. Começaremos pela obra As consequências da modernidade, de Anthony Giddens, que por meio de uma análise institucional da modernidade com ênfases cultural e epistemológica, liga a ideia de globalização á modernidade, pois o que vivemos é uma radicalização desta. Define modernidade como estilo, costume de vida ou organização social que vem da Europa e tornaram-se a partir do século XVII mais ou menos mundiais em sua influencia. O autor compreende que os modos de vida produzidos pela modernidade nos afastam de todos os tipos tradicionais da ordem social, portanto, as descontinuidades da modernidade afastam as instituições sociais modernas das tradicionais tendo como características o ritmo da mudança, o escopo da mudança e a natureza intrínseca das instituições modernas. As instituições sociais modernas também geraram diversos efeitos indesejáveis como os totalitarismos, a industrialização da guerra. Assim, pode-se dizer que o mundo moderno é repleto de perigos contribuindo assim para a perda da crença no progresso e, por consequência, para a dissolução de narrativas da história.
Outra questão é a modernidade, tempo e espaço. A descoberta do relógio mecânico permitiu a separação entre o tempo e o espaço. Essa separação contribuiu para o dinamismo da modernidade porque ela é condição do processo de desencaixe caracterizado pelo deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço. Dois mecanismos são as fichas simbólicas, que seriam “os meios de intercâmbio que podem ser ‘circulados’ sem ter em vista as características especificas dos indivíduos ou grupos que lidam com eles em qualquer conjuntura particular” (GUIDDENS, 1991, p.30). E os sistemas peritos conceituados como “sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje” (GUIDDENS, 1991, p. 35).
Ao falar a respeito das dimensões institucionais da modernidade, Giddens propõe que o industrialismo e o capitalismo sejam vistos como feixes organizacionais ou dimensões diferentes envolvidos nas instituições da modernidade. As sociedades capitalistas seriam um subtipo das sociedades modernas em geral e que tem como características específicas: a centralização na relação entre propriedade privada do capital e o trabalho assalariado sem posse de propriedade, a autonomia do estado é condicionada pela sua dependência da acumulação do capital. A sociedade capitalista é compreendida como sociedade moderna porque tem capacidade de administrar e vigiar a sociedade, logo, constitui-se um Estado-Nação. Por isso que à sua analise da modernidade, o autor acrescenta duas outras dimensões: o aparato de vigilância e o controle dos meios de violência.
Assim entende-se que a modernidade é inerentemente globalizante. A globalização é “a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distancia e vice-versa” (GUIDDENS, 1991, p. 69). As discussões da globalização tendem a aparecer em dois corpos de literatura: das Relações Internacionais, onde para a maior parte dos autores, os estados soberanos emergem primeiro como entidades separadas, tendo controle administrativo mais ou menos completo no interior de suas fronteiras. O enfoque dessa teoria é o Sistema de Estados com origem na Europa, desenvolvendo cada vez mais padrões de interdependência e consequentemente flexibilização de soberania. E do sistema mundo, que compreende que as economias mundiais existiam antes do tempo moderno. Contudo, estavam centradas em grandes estados imperiais e não cobriam mais do que certas regiões. O advento do capitalismo gera uma ordem genuinamente global em seu objetivo, baseada mais no poder econômico que no político. Reconhece a existência de uma multiplicidade de centros políticos no sistema mundial moderno: o centro, a semi-periferia e a periferia.
Já para Robert Gilpin na obra O desafio do capitalismo global, vai tratar globalização no seu sentido econômico que para ele, embora tenha efeito muito importante, o mundo ainda não está tão integrado, porém esse processo não é irreversível. “A globalização escora-se em fundamentos políticos que podem desintegrar-se se as grandes potências não fortalecerem seus vínculos econômicos e políticos” (GILPIN, 2004, p.390). A integração da economia mundial atualmente tem-se restringido a setores econômicos específicos. Ao ter início o século XXI, maior parte da população mundial está excluída de uma globalização associada basicamente às economias industrializadas ou em processo de industrialização no Leste Asiático e na América Latina. Todavia Gilpin afirma que a globalização econômica é limitada e não pode abranger todas as consequências negativas e positivas a ela atribuídas.
Isso porque o autor traz diferentes perspectivas acerca da globalização, aqueles que a defendem e aqueles que a criticam. Os comunitários baseiam sua crítica na defesa de comunidades locais. A globalização impõe um capitalismo predatório que prejudica ao meio ambiente e não respeita os direitos humanos. O medo é que o mundo acabe dominado por grandes corporações porque dentro das relações econômicas internacionais há uma hierarquia que dá força á essas corporações que por sua vez prejudicam os Estados. Por exemplo, as multinacionais podem gerar a estagnação dos salários, competição entre os trabalhadores dos países desenvolvidos versus os em desenvolvimento. E a globalização também levaria ao enfraquecimento do Estado.
Já para os nacionalistas populistas a globalização é culpada pelos problemas sociais, econômicos e políticos. Eles acreditam que os fluxos tecnológicos que uma multinacional leva favorece apenas aos países em desenvolvimento, e que ela ao voltar com produtos mais baratos prejudica a economia interna. Há o empobrecimento da população por diminuir as capacidades de consumo porque há perda salarial, perda de direitos trabalhistas e dificuldade de realocação dos trabalhadores no mercado. A globalização também levaria ao fim da soberania nacional porque compromete a autonomia do Estado, afinal, as fronteiras nacionais estariam se fragmentando.
Acontece que para os defensores, a maioria dos problemas não vem da globalização, mas dos Estados contemporâneos. Alguns economistas frisam que a globalização permitiu que certos países em desenvolvimento começassem a superar a defasagem econômica e tecnológica em relação aos países desenvolvidos, mas o perigo que atribuem a essa superação tem sido exagerado. Cabe às economias industriais estabelecidas a onerosa obrigação de se adaptar a mudanças em sua vantagem comparativa. Embora a participação dos países desenvolvidos na riqueza global tenha diminuído, seu padrão de vida continuou a subir. O declínio dos salários se dá devido à baixa qualificação. Muitos críticos dizem que para aumentar a competitividade das empresas locais, os governos entram numa “corrida para o fundo do poço”, dilapidando o Estado previdenciário. Mas essa corrida ainda não é justificada pelos fatos. E embora seja verdade que o Estado pode estar recuando para o papel mais modesto que representava na economia no século XIX, esta mudança deve-se mais a desdobramentos verificados no interior das sociedades nacionais e no ambiente político internacional.
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