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A Esfera Pública: Realidade e Perspectiva

Por:   •  6/6/2017  •  Dissertação  •  1.530 Palavras (7 Páginas)  •  218 Visualizações

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De volta a Tormes

A esfera pública: realidade e perspectiva

O mito da Caverna de Platão nunca esteve tão presente como atualmente. Nele refletimos a indução, manipulação e, como se não bastasse, a alienação dos homens acerca de um mundo utópico e contemplador. Através desta metáfora conhecemos uma importante teoria platônica: como, através do conhecimento, é possível captar a existência do mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e do mundo inteligível (conhecido somente através da razão). Igual aos prisioneiros da Caverna, somos guiados, na maior parte do tempo, pelos nossos sentidos, deixando a razão como figurante da vida moderna. A mesma tecnologia que informa, aliena; e á medida que cresce a velocidade das mudanças, aumenta a massificação e dependência ao mundo digital.

É fato que a esfera pública possibilitou um processo de argumentação extremamente veloz, viabilizou a comunicação entre pessoas de qualquer lugar do mundo, concedeu voz aos que jamais tiveram e, por fim, permitiu que a liberdade de expressão fosse tomada como norte de todo esse processo. Mas a informação que nela circunda está democratizada? Seria a informação chegando ou a digestão dela? Essa esfera pública quer traduzir a opinião pública? Acredito que essas questões são essenciais para entendermos o que deveria ser (perspectiva) e o que é (realidade) essa esfera, além de propiciar uma reflexão e compreensão do tema.

  • Mas a informação que nela circunda está democratizada?                 Ouso dizer que, infelizmente, não. Notamos que a notícia é democrática até um certo ponto- que seria o senso comum, ou seja, como a educação que nos é dada é igual ao do Mito da Caverna, em que somos alienados a acreditar em uma só verdade/ só uma versão, ficamos á mercê de uma só ideologia. Quando esses valores fixos e imutáveis se chocam com alguma ideia discordante, há uma “ficção de uma esfera pública” como dizia Habermas, já que a democracia torna-se uma perseguição e intimidação.                              

Não é difícil observar esse quadro: o atacante Emerson Sheik, ex-jogador do Corinthians, publicou na rede social uma foto em que ele estava dando um "selinho" em seu amigo como comemoração da vitória corinthiana em cima do Coritiba, o fato chocou de tal forma que gerou uma repercussão imensa: "Como? Um jogador do Corinthians fazer isso?" "Onde ficou sua "masculinidade"?" "Ele deve explicações ao Clube!".                                                                                                              Um outro exemplo, só que agora da "não-democratização" midiática, é representado no filme "O Informante": em que um ex-executivo da indústria do tabaco deu entrevista bombástica ao programa jornalístico "60 Minutos", da rede americana CBS. Dizia que os manda-chuvas da empresa em que trabalhou não apenas sabiam da capacidade viciadora da nicotina como também aplicavam aditivos químicos ao cigarro, para acenturar esta característica. Na hora H, porém, a CBS recuou e não transmitiu a entrevista, alegando que as consequências jurídicas poderiam ser fatais e que quanto maior a verdade, maior é o prejuízo da empresa.                                 Isso só comprova e escancara o quanto o "senso comum" grita frente a população, e os preconceitos que nele são injetados agem como uma seringa que impulsiona a humanidade, fazendo-nos agir pelos sentidos, esquecendo assim a real democracia, em que todos somos livres para expressar nossas vontades sem sermos mutilados por apenas fugirmos do cânone, ou por tentarmos transparecer certas verdades que não são deleitosas pela mídia.

  • Seria a informação chegando ou a digestão dela? Abravanel, Civita, Collor, Frias, Magalhães, Marinho, Mesquita, Saad, Sarney e Sirotsky são as dez famílias brasileiras que dominam a informação no Brasil, e que, segundo dados, controlam setenta por cento da imprensa brasileira. Essas referências demonstram que nós estamos sob controle dessas famílias, as quais escolhem "o que" e "como" deverão ser tratados determinados assuntos.                                     Além disso, as notícias que são colocadas na rede utilizam de ferramentas que transformam a informação pública em opinião, ou seja, a pretexto que passa-se uma informação, coloca-se uma opinião através de palavras trocadas, como por exemplo: "garantir" ao invés de "achar".                                                                                            A digestão dos fatos são inerentes ás matérias publicadas. Há um interesse de manipulação que, segundo Sartori, faz com que haja apenas a deglutição e aceitação das informações, transformando o Homo sapiens em Homo videns.                                                  Atualmente, não encontramos uma esfera pública como aquela descrita inicialmente por Habermas. Ou seja: a reunião de um público, formado por pessoas privadas, que constroem uma opinião pública, com base na racionalidade do melhor argumento, e fora da influência do poder político e econômico, e da ação estratégica. Temos exatamente o oposto disso.
  • Essa esfera pública quer traduzir a opinião pública? Em grande parcela das vezes, a esfera pública interpreta opiniões daqueles que possuem poder para dominá-las, transformando, segundo Norberto Bobbio, a democracia em tecnocracia, ou seja, transfigura algo de que todos podemos decidir a respeito de tudo, em: apenas os que detêm conhecimentos específicos são convocados a decidir- convertendo esse "conhecimento" em poder.                                      Somos constantemente induzidos a sermos “Jacintos”, da obra A Cidade e as Serras, de Eça de Queiróz. A alta tecnologia nos parece tão fascinante e hipnótica que, frequentemente, não paramos para analisar a qualidade e utilidade dos dados e informações que incorporamos. Podemos passar horas na frente de um computador, absorvendo dados que são completamente dispensáveis, já que são filtrados por interesses privados.                                                                   É assim que acontece: a esfera pública transparece o quanto que o capitalismo nos influenciou, visto que: até as notícias se tornaram fonte de lucro. Um ótimo exemplo disso, é novamente o filme "O Informante" , em que é tratado de forma geniosa esse tema, com questões: "Você é um homem de negócios ou de notícias?" (pergunta direcionada aos seus superiores quando eles negaram colocar ao ar a delação do Doutor Wigand, feita pelo jornalista Bergman); "Imprensa livre? A imprensa é livre para seus donos." (enfatizou o jornalista Lowell que estava completamente decepcionado com a falta de ética jornalística).                                     Fica portanto evidente que a opinião pública não é levada em consideração na esfera que deveria ser coletiva, pois com ressalvo do que disse Houaiss, há uma relação de poder que muda totalmente o rumo que a esfera tinha como perspectiva.

A esfera pública também potencializa a participação política, fazendo com que o debate seja mais constante e aberto. Como diz o filósofo francês Pierre Lévy: as redes oferecem potência ao povo,

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