O Crime Ambiental
Por: Emmy Freitas • 30/9/2021 • Projeto de pesquisa • 3.365 Palavras (14 Páginas) • 183 Visualizações
O desastre brasileiro com Césio-137
O Césio 137 é um isótopo radioativo resultante da fissão de urânio ou plutônio, é usado em equipamentos de radiografia, até aí tudo bem, o problema ocorre quando este isótopo é desintegrado e dá origem ao Bário 137m que passa a emitir radiações gama. Os raios gama possuem um grande poder de penetração, sendo nocivos ao ser humano.
No mês de setembro de 1987, provavelmente no dia 13, teve início o que foi considerado o maior acidente radioativo do Brasil e o maior acidente radioativo do mundo fora de usinas nucleares: o acidente com Césio-137 em Goiânia.
Ele era usado na forma de um sal — o cloreto de césio (CsCl) — pelo antigo Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), que o guardava dentro de uma bomba ou cápsula revestida de uma caixa protetora de aço e chumbo.
No ferro-velho, Devair abriu a caixa que continha a cápsula a fim de aproveitar o chumbo, mas ao fazer isso ele liberou para o meio ambiente cerca de 19 g de cloreto de césio-137.
Esse sal emite um brilho azulado muito bonito, o que encantou o dono do ferro-velho que acabou distribuindo o material a amigos e familiares.
O irmão de Devair, Ivo Alves, levou um pouco do material radioativo para casa, e sua filha, Leide das Neves Ferreira, brincou com ele e depois foi comer sem ter lavado as mãos, ingerindo pequenas quantidades de césio-137.
Em virtude da falta de conhecimento da população, dezenas de pessoas foram contaminadas, e os primeiros sintomas que apareceram apenas algumas horas depois foram náuseas, vômitos, tontura e diarréia.
Somente após 16 dias da abertura da cápsula é que foi acionada a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnem) e o caso foi controlado. Os dados apontam que 249 pessoas foram examinadas e, destas, 22 foram isoladas em razão da alta taxa de contaminação.
Os rejeitos do acidente com césio-137 chegaram a um volume de sete toneladas, que foram colocadas em tambores envoltos por concreto e depositadas em Abadia de Goiás, a 25 km do centro de Goiânia.
Esse lixo atômico envolve plantas, animais, materiais de construção e objetos provenientes do hospital abandonado, do ferro-velho e de toda a vizinhança.
O entulho radioativo gerado no acidente com césio-137 foi removido por meio de tambores envoltos de concreto.
Muitos carregam traços deixados pela radiação, como ocorreu com o outro irmão de Devair, Odesson Alves Ferreira, que perdeu parte da palma da mão e partes de um dedo. As consequências deste acidente são vistas até hoje, muitos sobreviventes sofrem doenças como câncer, hipertensão e distúrbios variados, e recebem tratamento médico contra estes males.
Passadas mais de três décadas, não há consenso sobre o número de vítimas do césio 137 em Goiânia. Oficialmente, quatro pessoas morreram por exposição excessiva à radiação, mas a quantidade de pessoas contaminadas ainda provoca discussão. O governo federal reconhece 120. O governo de Goiás fala em um número quase 10 vezes maior: 1.032. Entidades que representam as vítimas dizem ser 1,4 mil, sendo que houve 66 mortes. Em termos de contaminação, o desastre de Goiânia perde apenas para o da Usina Nuclear de Chernobyl, na antiga União Soviética, em 26 de abril de 1986.
Diferentemente de outros cenários de tragédias, Goiás nada faz para manter viva a memória do acidente com o césio 137. Passados quase 32 anos, nem o governo estadual, nem a prefeitura de Goiânia, onde houve a contaminação, tomaram medidas para contar aos seus cidadãos a história do maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora de usinas nucleares. Ao contrário. O Estado tem tentado fazer com que o episódio caia no esquecimento, mudando os nomes das ruas e de órgãos públicos e construindo prédios em lugares que serviram de palco para essa história.
Equipamento de radiologia onde foi encontrada a cápsula do Césio-137 — Foto: Divulgação/Cnen
Devair, sua esposa Maria Gabriela Ferreira e outros
Descontaminação Radioativa
A descontaminação radioativa das pessoas tem início a partir da detecção do nível de radioatividade.
Descontaminação de pessoas que entram em contato com material radioativo é feita de acordo com o grau da contaminação.
Uma segunda indicação é aumentar a sudorese, ou seja, o suor do corpo das pessoas contaminadas, por meio de exercícios físicos em esteiras ergométricas ou através do uso de saunas.
Já em casos mais graves, nos quais o material radioativo ficou muito tempo em contato com a pele e foi absorvido pelo organismo, a pessoa passa a ser monitorada.
Se o Azul da Prússia for administrado 10 minutos após a contaminação radioativa, reduz-se a absorção de césio em 40%.
Esse medicamento de origem alemã é absorvido pelo tubo gastrointestinal e é de baixa toxicidade, funcionando como uma resina de troca iônica.
No acidente com o Césio 137, em Goiânia, foram produzidas grandes quantidades de Azul da Prússia, pois este havia sido utilizado antes nas vítimas de Chernobyl, que também foram contaminadas por césio (subproduto da fissão).
Na época do acidente, os farmacêuticos da Marinha do Brasil conseguiram desenvolver outro medicamento, o Ferrocianeto de Ferro e Potássio ─ FeK[Fe(CN)6] ─, capaz de absorver 90% do césio no organismo, como mostrou um teste realizado in vitro.
O trabalho de descontaminação dos locais atingidos não foi fácil. A retirada de todo o material contaminado com o césio-137 rendeu cerca de 6000 toneladas de lixo (roupas, utensílios, materiais de construção etc.). Tal lixo radioativo encontra-se confinado em 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 contêineres (revestidos com concreto e aço) em um depósito construído na cidade de Abadia de Goiás, onde deve ficar por aproximadamente 600 anos.
Punições aos culpados e assistência às vítimas
Além do físico Flamarion Barbosa Goulart, outras quatro pessoas foram condenadas pelo césio-137:
Carlos de Figueiredo Bezerril – médico responsável pelo Instituto Goiano de Radiologia (IGR), onde a cápsula
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