Resumo A Nova Musica - Aaron Copland

BEHÁGUE, Gerard. Gomes, (Antonio) Carlos. In: SADIE, Stanley (ed.). The new Grove dictionary of music and musicians. London: Macmillan, 2001.

Tradução de Gilson Rocha e Rogério de Brito Bergold

ANTÔNIO CARLOS GOMES

(Campinas, 11 de Julho de 1836; Belém, 16 de Setembro de 1896)

Compositor brasileiro. Ele era filho de um maestro de bandas da província, com quem aprendeu as noções de música e a tocar vários instrumentos. Ele começou a compor muito cedo e aos 18 anos escreveu uma missa que foi executada em uma igreja local, pelo grupo musical da família Gomes. Em 1859, ele saiu em turnê com seu irmão Sant'Ana Gomes e teve um sucesso considerável com o Hino Acadêmico em São Paulo. Partiu para o Rio de Janeiro, contra a vontade de seu pai, e entrou no Conservatório Imperial de Música, onde estudou composição com Joaquim Giannini.

A experiência no conservatório reforçou sua predileção por ópera, e logo se familiarizou com as obras de Rossini, Bellini, Donizetti e Verdi, cuja música exerceu uma profunda influência sobre ele ao longo de sua carreira. Em 1860, duas de suas cantatas atraíram grande atenção. O espanhol José Amat, então diretor musical da Ópera Lírica Nacional, deu-lhe uma cópia do libreto de A Noite do Castelo de Antônio José Fernandes dos Reis, que Gomes musicou e produziu em 04 de setembro de 1861, no Teatro Lírico Fluminense do Rio de Janeiro. O sucesso desta e de sua próxima ópera Joana de Flandres (1863) levou-o a conquistar uma bolsa de estudos do governo para estudar na Itália, e em 1864 iniciou seus estudos com Lauro Rossi, diretor do Conservatório de Milão. A partir de então, a maior parte de sua vida foi passada na Itália e seus ideais de composição tornaram-se completamente italianizados.

A fama de Gomes na Itália começou com duas comédias musicais, Se sa minga (1867) e Nella Luna (1868), que dão evidência clara de sua habilidade de escrever em um estilo bel canto popular. Mas foi o sucesso triunfal de Il Guarany, no La Scala em 19 de março de 1870, que lhe trouxe fama internacional. A ópera foi executada no Rio de Janeiro no dia do aniversário do imperador (2 de dezembro de 1870), bem como em quase todas as capitais européias nos próximos anos. Verdi a ouviu em Ferrara em 1972 e referiu-se a Gomes em uma carta como o trabalho de um "verdadeiro gênio musical”. Mas a próxima ópera de Gomes, Fosca, em um bom libreto de Ghislanzoni, produzido em 16 de Fevereiro de 1873 no La Scala, foi um fracasso, porque o compositor se envolveu em uma briga entre os defensores do bel canto italiano e os reformadores Wagnerianos, em que ele foi incluído como um estrangeiro. A nova versão de Fosca, no entanto, teve um sucesso considerável em 1878, quando foi novamente executada no La Scala. Seguiu-se Salvator Rosa (Génova, 1874), em um libreto de Ghislanzoni, escrito de acordo com o gosto predominante dosfreqüentadores da ópera italiana, e Maria Tudor (Milão, 1879).

Gomes aceitou um convite para visitar o Recife e a Bahia em 1880, e durante esta viagem o seu amigo Visconde de Taunay sugeriu o objeto de sua próxima ópera, Lo Schiavo. Ele estava realmente à procura de outro assunto no Brasil, depois de ter tratado sobre os índios guaranis. Naquela época, a abolição dos escravosestava em andamento no Brasil, e Taunay mesmo escreveu o drama cujos personagens principais seriam os escravos negros. Apesar das alterações do libretista Paravicini (a fim de satisfazer as convenções da ópera italiana, os índios foram substituídos pelos escravos e a ação foi transposta do século 18 para o século 16), a estréia, no Rio de Janeiroem 27 de setembro de 1889, foi um sucesso.

Sua última ópera, Condor (Milão, 1891), revelou a orientação de Gomes para verismo. Em 1892, no Dia de Colombo (12 de outubro), sua última grande obra, o oratório Colombo, foi apresentado no Rio de Janeiro. Nessa época o novo governo republicano tinha sido estabelecido e Gomes perdeu o apoio oficial. Ele aceitou uma nomeação para dirigir o conservatório local em Belém, em 1896, mas morreu poucos meses depois.

As obras de Gomes revelam um elevado sentido dramático e sua invenção melódica, um rico lirismo. Dentro dos padrões estabelecidos de ópera italiana no final do século 19, ele alcançou um domínio incontestável. Embora algumas de suas obras (A Noite do Castelo, Salvator Rosa) refletem influências diretas de ópera italiana pós-rossinianas, eles também atestam a sua própria habilidade. O triunfo de Il Guarany, que continua sendo seu trabalho mais importante, foi devido a suas melodias eficazes, a sua construção dramática, e não menos importante, o seu libreto. A ópera é baseada no célebre romance, de mesmo título,do escritor brasileiro indianista José de Alencar. O tema pitoresco, com heróis indígenas e a estilização romântica de danças indígenas, sem dúvida tornou o trabalho ainda mais atraente para o público europeu da época; dentro dos limites de seu estilo, no entanto, Il Guarany apresenta algumas características imaginativas. A versão final da obra, escrita em 1871, tornou-se um segundo hino nacional no Brasil. O primeiro tema, com um caráter épico no contexto de toda a ópera, funciona como um verdadeiro motivo e apresenta uma típica idealização romântica da música 'indígena'. O fluxo natural de árias e duetos, o momento e a sequência de cenas, bem como os contrastes marcantes na encenação, revelama competência técnica de Gomes no gênero. Ao mesmo tempo, ele seguiu as convenções necessárias da época: a orquestração, embora bastante eficaz, permanece padrão, e a ópera não omite cabalettas estereotipados ou 'religiosos' e passagens de 'balada'.