Vênus em Dois Atos de Hartman
Por: monicap.ruiz96 • 4/9/2022 • Resenha • 1.222 Palavras (5 Páginas) • 508 Visualizações
Mônica P. Ruiz
O texto de Hartman inicia contando a história de Vênus, que foi uma garota escravizada durante o trafico negreiro e teve a sua história de violencia encontrada no arquivo da escravidão. As descrições encontradas sobre as agressões sofridas pela jovem até o do seu último momento de vida, quando foi pelo executada capitão do navio negreiro, são amenizadas pelo autor dos registros, sendo transcritas assim como espécie de romance pornográfico do século XIX. É importante ressaltar que esse capitão já havia matado outra jovem negra. Diante disso, a autora afirma que apesar de sabermos das formas que Vênus foi retratada, pouco se sabe da sua existência, gerando dessa maneira a interrogação quem é Vênus? Logo em seguida tal questão se esbarra na impossibilidade de responder essa pergunta. Através dessa questão Hartman elucida como apesar de existirem inúmeras outras mulheres que compartilham da mesma circunstâncias, isso não é capaz de gerar história. Além disso essas histórias retratadas “não são sobre elas, mas sobre a violência…”(p.4).
Com base nisso autora se propõe a contar a história dessas duas garotas, vivenciaram o horror de escravidão, mas do que isso Hartman reafiama o seu desejo de recontar para além das violencias vividas por essas moças, sem atravessa-las por mais vioelencias ao realizar o seu próprio ato de narração. Todavia, como recontar as histórias de pessoas escravizadas sem identificarem “...como unidades de valor, das faturas que as afirmaram como propriedades e das crônicas banais que as despojaram de características humanas? (p.5) Já que essas são as informações presentes nos livros de contabilidade sobre a escravidão fazendo com que a historiografia do tráfico escravista, seja em grande maioria calcada em “assuntos quantitativos e questões de mercados e relações comerciais” p.6. Além disso, tem-se a questão da escassez das histórias elaboradas pelo próprio africanos em relação a escravização e cativeiro. Diante disso, a autora irá enxergar que ao tentar recontar as histórias sobre os escravizados para além das violências sofridas por eles seria uma “ forma de compensação ou mesmo como reparações…” p. 6 histórica. Baseado nisso Hartman ainda afirma essa seria talvez uma das unicas formas que os negros poderia receber a sua a compensação/reparação, como fica evidente no fragmento “ talvez o único tipo que nós iremos receber.” p. 6.
O prazer na prática da violência é documentada em todos os registros (documentos, declarações e instituições ) sobre a escravidão. Tal fato pode ser exemplificado através dos atos do escravagista Thomas Thistlewood que produziu uma série de relato onde ele descrevia sobre os estupros em série e a utilização de excrementos nas suas punições, no qual é perceptível em seus registros o seu prazer “pela destruição e pela degradação da vida” dos escravizados p. 10. É diante dessas situações que a historiadora se propõe a reconstruir a história da escravidão com objetivo de “ exumar as vidas enterradas sob essa prosa(...) O sonho é liberar essas vidas das obscenas descrições que primeiro as apresentaram para nós. ” p. 10.
Com base nisso a autora inicia a sua contagem sobre a história de Vênus e a outra garota que foi rapidamente citada por Hartman, que também foi assassinada. Ambas morreram a bordo do Recovery e tendo como assassino capitão, John Kimber. É em meio a essas informações que autora começa dissertar que devido a falta de informações faz com que que impossibilite a recontagem da história de Vênus: “No fim, eu não podia dizer mais sobre Vênus do que tinha dito sobre sua amiga: “Não tenho certeza se é possível resgatar uma existência a partir de um punhado de palavras: o suposto assassinato de uma garota negra.” (p.14). É possível perceber por meio da narrativa da autora o quanto o limite da história se esbarra nas fontes de dados, pois sem essas informações a tarefa de recontar a história por uma nova perspectiva se torna (quase) impossível. Fazendo com que as histórias vitimas das escravidão ficassem presas a narrativa da violência. Tal fato fica claro no fragmento: “Eu não podia mudar coisa alguma: “A garota ‘nunca terá qualquer existência fora do domicílio precário das palavras’ que permitiu que ela fosse assassinada.” (p. 14). Devido a isso, a historiadora irá afirma que o arquivo da escravidão é fundado na violencia, violencia essa que determina regula e organiza os tipos noções que poden ser elaboradados a respeito a escravidão, além de gerar sujeitos e objetos de poder (p.16).
De acordo com a autora seu objetivo não era“ recuperar as vidas das pessoas escravizadas ou redimir os mortos, mas em vez disso trabalhar para pintar o quadro mais completo possível das vidas de cativos e cativas” (p.17). A duplicidade dessa ações são uma forma de tentar realizar um esforço contra as limitações do arquivo, para assim ser possível elaborar uma História Cultural do cativeiro, ao mesmo tempo que cria uma encenação em relação a impossibilidade “de representar as vidas dos cativos e cativas precisamente por meio do processo de narração.” (p. 17). Por fim, o desejo da historiadora repousa em tornar visível a produção de vidas descartáveis (no tráfico atlântico de escravos e também na disciplina da História), descrever “a resistência do objeto”(p. 18).
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