A Oralidade e Escrita
Por: dalva.camara • 16/10/2020 • Resenha • 1.256 Palavras (6 Páginas) • 186 Visualizações
1. Oralidade e escrita no contexto das práticas sociais
A fala constitui a mais importante ferramenta de comunicação do ser humano; em qualquer lugar no mundo, cada cultura possui suas próprias tradições lingüísticas que são transmitidas de geração em geração. Inicialmente, isso ocorre através da fala. Depois, em um segundo momento, decorrente mesmo do estágio de evolução do homem, essa prática social da fala se realiza, também, através da escrita.
Assim sendo, a língua (oral ou escrita) decorre da interação entre os indivíduos, dentro de um contexto social específico. Específico no sentido de que a fala, entre os falantes da mesma língua, pode ser entendida e transmitida sem nenhuma dificuldade. Por outro lado, a tradição da escrita, evento que se dá muito após o advento da fala, precisa ser cunhada em um ambiente propício, o qual acontece, mormente, na escola.
A escola, como prática social amplamente aceita e reconhecida pela sociedade brasileira. Dessa forma, a escola é um dos meios mais importantes na vida do indivíduo, na medida em que se encontrada legitimada para o repasse daquele conjunto do saber que determinada sociedade, em determinado período julga indispensável para a formação do cidadão.
Todavia, a função da escola não se resume ao simples repasse de informações técnicas ou científicas. Pelo contrário, é muito mais amplo do que isso. Em outras palavras, a escola tem a obrigação de formar um cidadão pensante. Essa formação decorre das interações promovidas, primeiro, no ambiente familiar e, em seguida, no ambiente escolar.
Nesse sentido, o desafio do professor na escola brasileira é imenso, devido a problemas das mais variadas ordens, seja ela de natureza política, social, de infra-estrutura, de formação da família, da falta de investimentos por parte do Estado, da formação deficiente do professor, enfim.
Tomados esses aspectos e ante o contexto multidisciplinar da escola, cumpre destacar as diferenças existentes no processo educacional que envolve os seguintes temas: letramento, alfabetização e escolarização.
Letramento é o ato ou efeito de letrar-se. Ou seja, diz respeito ao potencial que o indivíduo possui de utilizar-se da leitura e da escrita e aplicá-las no contexto social em que está inserido. Disso decorre que o ato de letrar é bem mais abrangente que os atos de alfabetizar e de escolarizar.
A alfabetização consiste, assim, tão somente no ato de ensinar a ler e a escrever. Função típica da escola, mas não exclusiva, visto que pode ser consolidada fora dos muros da escola, em casa, em instituições religiosas etc..
Por outro lado, escolarizar reside na formalização do ensino visando à formação do indivíduo para o convívio em sociedade.
Não custa nada lembrar que o letramento, a alfabetização e a escolarização, como fenômenos complementares uns dos outros, necessitam, basicamente, da fala para se concretizarem.
2. Oralidade x Letramento ou Fala x Escrita
A oralidade, de cunho formal ou informal, e o letramento, fundamentado, essencialmente, na escrita, são considerados práticas sociais enquanto a fala, como utilização oral da língua pelo homem, e a escrita, representação da fala através de signos próprios, são apenas modalidades de uso da língua.
3. Fala x Escrita: a perspectiva das dicotomias
Ao traçar um paralelo entre fala e escrita, tem-se que esta representa algo materializado nas conhecidas gramáticas normativas; e aquela, não normatizada, e que todos os nativos podem fazer uso indistintamente. Dessa dicotomia resulta atribuir uma menor complexidade à fala em detrimento da escrita (visão imanentista).
4. Oralidade x Escrita: a tendência fenomenológica de caráter culturalista
O caráter culturalista apresenta uma perspectiva epistemológica, na medida em que observa os fatos históricos de desenvolvimento da língua e, com o advento da escrita, permitiu que a língua se tornasse um objeto de estudo sistemático. Essa tendência, então, supervaloriza, mais uma vez, a escrita em prejuízo da língua falada.
5. Fala x Escrita: a perspectiva variacionista
Através da perspectiva varacionista, as relações entre fala e escrita, são analisadas tomando-se por norte processos educacionais, onde o exemplo maior reside, naquilo que é denominado currículo bidialetal. Nesse sentido, as dicotomias são representadas pelo uso de uma língua padrão em contrapartida a variedades de uso não padrão da língua; língua culta e língua coloquial; normas padrão para o uso da língua e normas não padrão para o uso da língua.
Em síntese, conforme Marcuschi (1997), fala e escrita, representam formas de uso da língua. Portanto, quando o aluno detém, o conhecimento de ambas as formas de uso da língua (oral e escrita), ele se torna bimodal.
6. Oralidade x escrita: a perspectiva interacional
A visão interacionista se resume a: relação dialógica no uso da língua; estratégias lingüísticas; funções interacionais; envolvimento e situacionalidade e; formulaicidade. Modelo este que vê a língua como um fenômeno muito mais dinâmico, porém não descreve os fenômenos sintáticos e fonológicos da língua.
Marcuschi acredita, então, que a união das perspectivas variacionista e interacionista, resultaria em resultados mais seguros em maior conformidade empírica e teórica. Por isso:
[...] o caminho mais sensato no tratamento das correlações entre formas lingüísticas (dimensão linguistica), contextualidade (dimensão funcional) e interação (dimensão interpessoal) no tratamento das semelhanças e diferenças entre fala escrita nas atividades de formulação textual discursiva. (MARCUSCHI, 1997, p. 132-133)
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