AS DICOTOMIAS SAUSSURIANAS
Por: Giovana Soncini • 12/5/2018 • Trabalho acadêmico • 1.663 Palavras (7 Páginas) • 349 Visualizações
AS DICOTOMIAS SAUSSUREANAS Profa. Dra. Regina Helena Pires de Brito
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“O fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas faces que se correspondem e das quais uma não vale senão pela outra” (CLG, 15)
1ª. Dicotomia saussureana - Langue/Parole (Língua/Fala)
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Nas palavras de Saussure: “a linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”. (CLG, 16)
As três concepções para a langue, segundo Saussure:
1. Langue como acervo linguístico
“a langue é uma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos”. (CLG, 27)
“é o conjunto de hábitos linguísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender” e também “as associações ratificadas pelo consentimento coletivo e cujo conjunto constitui a langue, são realidades que têm sua sede no cérebro”. (CLG, 23)
2. Langue como instituição social
Saussure considera que a langue “não está completa em nenhum indivíduo, e só na massa ela existe de modo completo”. Para ele, a langue “é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos.” (CLG, 17). É, ainda, “a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre os membros de uma comunidade”. (CLG, 22)
3. Langue como realidade sistemática e funcional
“A langue é um sistema de signos distintos correspondentes a idéias distintas” (CLG, 18); é um código, um sistema onde, “de essencial só existe a união do sentido e da imagem acústica”. (CLG,23).
Parole
Por se constituir de atos individuais, torna-se heterogênea, múltipla, imprevisível, irredutível. Os atos linguísticos são ilimitados, não formam um sistema (como os atos linguísticos sociais). Por isso, a Linguística só pode estudar aquilo que é recorrente, constante, sistemático (langue)
“A parole é um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir: 1o.) as combinações pelas quais o falante realiza o código da langue no propósito de exprimir seu pensamento pessoal; 2o.) o mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações. A parole é o lado executivo da linguagem, cuja execução jamais é feita pela massa; é sempre individual e dela o indivíduo é sempre senhor.” (CLG, 21)
“Para atribuir à langue o primeiro lugar no estudo da linguagem, pode-se, enfim, fazer valer o argumento de que a faculdade natural ou não de articular palavras não se exerce senão com a ajuda de instrumento criado e fornecido pela coletividade; não é, então, ilusório dizer que é a langue que faz a unidade da linguagem. (...) A langue é uma coisa de tal modo distinta que um homem privado do uso da parole conserva a langue, contanto que compreenda os signos vocais que ouve.” (CLG, 23)
Interdependência Langue/Parole
Os dois constituintes da linguagem estão “estreitamente ligados e se implicam mutuamente: a langue é necessária para que a parole seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas a parole é necessária para que a langue se estabeleça. (...) Historicamente o fato da parole vem sempre antes: é a parole que faz evoluir a langue: são impressões recebidas ao ouvir os outros que modificam nossos hábitos linguísticos” (CLG, 27)
- tal a interdependência entre a langue e a parole que Saussure considera a langue, ao mesmo tempo, instrumento e produto da parole. O próprio mecanismo de funcionamento da linguagem repousa nessa interdependência: “Como se imaginaria associar uma idéia a uma imagem verbal se não se surpreendesse de início esta associação num ato de fala (parole)? Por outro lado, é ouvindo os outros que aprendemos a língua (langue) materna; ela se deposita em nosso cérebro somente após inúmera experiências.” (CLG, 27)
A dicotomia língua/fala é o ponto de partida para Saussure postular uma Linguística da língua e uma Linguística da fala , sendo que considera a Linguística propriamente dita aquela cujo único objeto é a langue.
Por que Saussure escolhe a langue?
A razão pela escolha da langue em detrimento da parole está na oposição sistema (langue) não sistema (parole). Todo elemento linguístico deve ser estudado a partir de suas relações com os outros elementos do sistema e segundo sua função e não por suas características extralinguísticas (físicas, psicológicas, etc).
2a. Dicotomia saussureana - sincronia/diacronia
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Distinguindo fatos da língua sincrônicos de fatos da língua diacrônicos, Saussure estabelece que “é sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência; diacrônico tudo que diz respeito às evoluções”. (CLG, 96)
Pela sincronia, a linguística se interessa pelas relações entre fatos coexistentes num sistema linguístico; como elas se apresentam num momento X, abstraindo qualquer noção de tempo. A Linguística sincrônica estuda a língua fazendo abstração da ação que o tempo exerce sobre ela, estuda-a no plano das simultaneidades; toma em consideração os estados de língua.
Não existe sincronia pura: no interior de qualquer sistema coexistem estágios de sistemas mais antigos e esboçam-se, como subsistemas, estágios posteriores. Assim, a linguística sincrônica faz uma análise interpretativa das formas atuais de uma língua em funcionamento.
Saussure privilegia o estudo sincrônico (desconsiderando a síntese pancrônica) devido à sua conceituação fundamental de langue como sistema de valores. Segundo ele, o lingüista só pode realizar a abordagem deste sistema estudando, a analisando e avaliando suas relações internas (sintagmáticas e paradigmáticas), isto é, sua estrutura, sincronicamente, porque “a langue constitui um sistema de valores puros que nada determina fora do estado momentâneo de seus termos.”
Para ele, o falante nativo não tem consciência da sucessão dos fatos da langue no tempo. A única e verdadeira realidade tangível que se lhe apresenta de forma imediata é a do estado (sincrônico) da língua. Por isso, “também o lingüista que queira compreender esse estado deve fazer tábula rasa de tudo quanto a língua produzir e ignorar a diacronia”. (CLG, 97)
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