O Isolamento Social Em Ciranda De Pedra
Por: THIAGO2023 • 7/1/2025 • Resenha • 1.897 Palavras (8 Páginas) • 19 Visualizações
SOLIDÃO EM MEIO À MULTIDÃO: O ISOLAMENTO SOCIAL EM
‘CIRANDA DE PEDRA’
Professora: Ma. Deyse G. Machado Brito
Thiago dos Santos Firmino
Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles, escritora reconhecida pela autoria de diversas obras, traz diversas temáticas em seus livros e em Ciranda de Pedra não é diferente. Ademais entre tantas coisas relacionadas a diversos temas, a solidão de Virginia personagem principal chama a atenção pela carga de sofrimento que ela carrega durante a narrativa. No romance Ciranda de Pedra, o sentimento da solidão no meio da multidão está intrinsecamente entrelaçado na narrativa, lançando luz sobre as complexidades do isolamento social.
O livro explora como o isolamento não é apenas físico, mas também emocional e psicológico. A protagonista, mesmo estando rodeada de pessoas, sente-se constantemente só, refletindo como o isolamento social pode ocorrer mesmo em ambientes cheios. O isolamento de Virginia, é retratado de uma forma bem especifica, apesar de sempre estar rodeada de pessoas Virginia sofre com seus pensamentos solitários.
As várias fases de sua vida trazem diversos desafios que ela teve de encarar, Lygia Fagundes explora bem seu emocional, primeiro pôr a protagonista se sentir deslocada devido a sua mãe, Laura, viver com ela separada do seu pai Natércio - no decorrer da história é descoberto que ele não é seu pai biológico - não só do seu pai, mas também de suas irmãs Bruna e Otávia, em algumas partes dos diálogos com Laura, ela deixa claro que preferia viver em uma ambiente diferente do qual ela vive, que é com seu padrasto Daniel: “Você gostaria de morar lá? Virginia baixou os olhos cheios de lagrimas. Mas só se você fosse também” (Telles, 2010, p. 25) que progressivamente Virginia vai criando uma relação mais próxima, sua figura inicialmente de tio, vai se tornando a figura paterna e passa a ter um valor maior durante a história.
Ao aprofundar nas implicações do isolamento social apresentado em "Ciranda de Pedra", podemos começar a entender como a solidão pode transformar a percepção de uma pessoa sobre si mesma e o mundo ao seu redor. O livro relata como a protagonista começa a duvidar de suas próprias experiências e sentimentos, uma consequência comum do isolamento social prolongado.
O fato de Virginia se encontrar dividida por consequência da separação de sua família faz vir à tona sentimentos existencialista e questionamento de qual é realmente o seu lugar, o romance explora como as relações sociais podem deixar profundas marcas psíquicas e traumas permanentes, a forma como a personagem está envolta nessa ciranda formada pelas pessoas de seu convívio e como cada uma afeta diretamente o seu comportamento, traz reflexões sobre as relações sociais.
A trama mostra como Virginia via-se indecisa a respeito de sua família, seu lugar, se era feliz, de modo que no decorrer da história ela vai tentando achar o real motivo de não se encaixar, seja junto de sua mãe ou seu pai. Sua mãe passa por um sério problema de saúde que é retratado no livro como castigo divino, devido a Laura ter traído e abandonado Natércio, algo que para a época era um motivo de vergonha, acontecimento no qual até mesmo Virginia se expressa: “Bruna disse que se minha mãe não tivesse se separado do meu pai não estava agora assim doente. Ela acha que é castigo de Deus” (Telles, 2010, p. 20).
Em um diálogo entre mãe e filha, Virginia questiona a mãe se ela ainda se lembra de seu pai. Laura respondi que sim, mas parece não estar lúcida o suficiente para entender a pergunta feita pela menina. Virginia culpa Daniel e Luciana pelo divorcio dos pais, e pensa que eles um dia serão castigados por Deus por tamanha maldade.
"O mal acaba sendo vencido como o dragão de São Jorge!", Bruna dissera. E Bruna sabia. Eles seriam esmagados e o bem triunfaria, o bem que era a mãe curada voltando para o pai, só amando o pai” (Telles, 2010, p. 25)
Laura na obra, sempre está impossibilitada de até mesmo se mover sozinha, além disso o fato de ter deixado a vida da mulher considerada tradicional para aquela época - cuidar do marido, da casa e dos filhos - acarreta a ela viver a rejeição social. Diante de todo sofrimento vivido por sua mãe Virginia se enxerga como o resultado de algo que tanto atrapalha a vida das pessoas que ela ama. Mais um fator que fica diretamente ligado ao quanto isso afetava o psicológico dela e a fazia se sentir fora do laço familiar, ainda mais vivendo em um lar onde as pessoas não eram bem-vistas.
A carga excessiva de sentimentos bipolares que habitam a mente de Virginia reflete diretamente no seu comportamento, afinal as pessoas com quem ela convivia pagaram com as suas vidas os erros pecaminosos que os dois amantes cometiam, trazendo uma dualidade, a infelicidade do rompimento do núcleo familiar e a felicidade de Laura e Daniel por escolherem se amar.
Logo antes havia perdido sua mãe, após mudar-se para casa de quem acreditara ser seu pai, recebe a triste notícia que seu pai biológico Daniel cometeu suicídio de forma premeditada e lhe escrevera um bilhete de 2 linhas: “entrego-te Virgínia porque acima de tudo confio no seu espírito cristão” e lhe deixou seus livros. Todas essas perdas geraram na personagem uma crise existencial e o sentimento de estar realmente fora da ciranda, título no qual Lygia amarrou todas as filosofias da obra. A rejeição familiar provoca culpa, indiferença e baixo autoestima: “’eu sou feia e ruim, ruim, ruim!’” (Telles, 2010, p. 1); “ninguém gosta de mim, ninguém! Minhas irmãs não se importam comigo e minha mãe só gosta de tio Daniel” (Telles, 2010, p. 20) mostram as reações de alguém que sofre com o isolamento social.
Agora tendo que se mudar e se encaixar nas exigências de Natércio, a garota é obrigada a se ajustar aos padrões e apagar os rastros da casa anterior: “Seu pai não quer que você venha com as suas roupas... Ela entrou no carro levando apenas a pasta da escola e a boneca de Otávia” (Telles, 2010, p. 77), além de se submeter à disciplina da Fraulein Herta: “Não encha assim o prato para depois deixar tudo, não é certo fazer isso. E descruze esse talher, ponha a faca ao lado do garfo simplesmente” (Telles, 2010, p. 76).
A protagonista, dividida em experiências familiares diferentes começa o início de uma nova perspectiva que no início aparentava promissora, mas devido ao comportamento das outras pessoas Virginia sente-se separada da convivência da nova casa. A dupla mudança de espaços que a protagonista enfrenta reflete os sentimentos que ela carregará durante a obra, ela sendo vítima de todo esse drama, se enxerga como o fracasso das duas famílias nas quais ela não se sentia incluída.
Virginia ao ver que era somente uma bastarda da família Prado, concluiu que precisa ir para outro lugar: “eu queria ficar interna... Queria morar no colégio mesmo. Posso?... Por favor, pai, eu não quero morar aqui” (Telles, 2010, p. 95). Essa mudança provocou nela a sensação que ao passar um tempo longe e por fim voltar ao seio familiar, poderia reconstruir seus laços. O recebimento da Virginia a sua casa é totalmente deprimente, a ela só esperava que construísse um afeto com seu pai Natércio, algo que também não acontece. Para ela ter voltado foi um grande fracasso: “Nada restava da sua passagem por aquela casa, nada” (Telles, 2010, p. 159).
...