RESENHA: PARA UMA FILOSOFIA DO ATO RESPONSÁVEL
Por: ostilios • 21/6/2017 • Resenha • 1.429 Palavras (6 Páginas) • 1.430 Visualizações
RESENHA: PARA UMA FILOSOFIA DO ATO RESPONSÁVEL[1]
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Para uma Filosofia do Ato Responsável. [Tradução:Valdernir Miotello. Carlos Alberto Faraco]. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010, p. 155.
Moselle Ottoni Sant’anna
Paulo Henrique Novais dos Santos
Vanessa Ostilio da Silva[2]
Mikhail Mikhailovich Bakhtin nasceu no dia dezessete de novembro de 1895 em Orel (Rússia) e faleceu em sete de março de 1975 (em Moscou). Bakhtin foi um famoso pesquisador, pensador e filósofo que dedicou sua vida à análise da linguagem. Suas pesquisas norteiam até hoje estudos e teorias pelo mundo. Sua influência é facilmente notada em estudos nas áreas de história, filosofia, antropologia, psicologia, sociolinguística, análise do discurso e semiótica. No entanto, sua maior contribuição foi o legado dos estudos da linguagem – considerada por muitos uma visão “translinguística”, já que para Bakhtin a língua não se encaixava em um sistema isolado. Para ele, toda e qualquer análise linguística deveria tratar também de outros fatores, como a relação entre interlocutores, o contexto social, histórico, cultural, ideológico e de fala. Segundo o autor, se não fosse dessa forma, não haveria compreensão.Além disso, ele foi o líder intelectual de um grupo que ficou conhecido como “Círculo de Bakhtin“, considerado revolucionário e fonte de inspiração para inúmeros pesquisadores da área.
A obra Para uma filosofia do Ato Responsávelfoi escrita por Bakhtin entre os anos de 1920 e 1924 e que, segundo especialistas, esta permaneceu como manuscrito inacabado e sem título até ser publicado posteriormente na Rússia em 1986, sob o título K filosofiipostupka, mas ainda assim com o status de uma obra póstuma, pois faltam as oito primeiras páginas de sua introdução feita por Sergei Bocharov. O texto é composto por um conjunto de manuscritos que Bakhtin havia guardado em um esconderijo em Saransk, cuja existência somente seria revelada pelo próprio Bakhtin nos anos 70, quando já se sentia a salvo das perseguições políticas.Os manuscritos foram encontrados em péssimo estado e algumas palavras não puderam ser decifradas, aparecendo no texto com imediatamente após a palavra. Outras foram objeto de uma leitura hipotética e por essa razão estão seguidas de >.O livro é dividido entre dois amplos fragmentos: uma longa introdução e uma seção denominada “primeira parte”. Esta obra foi traduzida do russo para o português tardiamente, somente em 2010.
Sendo um dos primeiros livros de Bakhtin, ele apresenta uma vertente diferenciada de suas próximas obras, mas que mesmo assim dialoga com a sua tese, de que há total interação da sociedade para com o indivíduo. Nessa obra, ele apresenta o caráter do indivíduo como o formador da sociedade, em que todo ato é de responsabilidade de quem o pratica. O livro tem foco na centralidade do ser. O indivíduo tem participação ativa na formação do social, e não é apenas alguém em si mesmo, ele possui total responsabilidade no “ato”. Um conceito recorrente em toda a obra é de que “não existe álibi”, toda escolha de palavras, de ideias é de total responsabilidade de quem o pratica, e a escolha leva a consequências, que serão arcadas pelo indivíduo.
Apresenta dois mundos, o da cultura e o da vida, que trazem essa ideia de social e individual, que vão dialogar entre si, mas levando o indivíduo para um caminho diferenciado em cada um, pois há o foco em aspectos diferentes. Ele utiliza o exemplo do Jano Bifronte para explicar esse conceito, Jano (em latim Janus) foi um deus romano das mudanças e transições,a figura de Jano é associada às portas (entrada e saída), bem como a transições. A sua face dupla também simboliza o passado e o futuro, exemplificando assim exatamente o que Bakhtin quis apresentar nessa obra. Para o autor, cada um possui um dever, dever esse que parte da consciência, pois nesse momento o indivíduo está sozinho, e pratica suas próprias escolhas. “Não existem normas morais e determinadas válidas em si, mas existe o sujeito moral com uma determinada estrutura” (BAKHTIN, 2010, p. 47 e 48).
No decorrer do livro ele também critica o Teoricismo, que é a adoção de ideias de efeito apenas teórico sem aplicação prática, sendo para ele algo inadmissível, pois o contexto é válido na aplicação de conceitos e ideias. “Formas análogas de teoricismo são também as várias tentativas de reunir o conhecimento teórico e a vida em sua irrepetibilidade” (BAKHTIN, 2010, p. 59). Além do teoricismo ele também discorre sobre as Leis de Newton, a obra de Kant, e utiliza fatos, como a entonação da palavra, para exemplificar suas teorias.
Bakhtin afronta concretamente a questão de como seria possível considerar e descrever a arquitetônica segundo a qual se constrói e organiza a unicidade e a unidade de um mundo não abstratamente sistemático, mas concretamente arquitetônico sobre um plano avaliativo e espaçotemporal a partir do lugar único que cada um ocupa de modo insubstituível, enquanto centro participativo e não indiferente, na sua responsabilidade sem álibi. (BAKHTIN, 2010, p. 29).
O autor não elaborou uma obra didática, a fim de ser passada e ensinada na escola, mas algo que explora gradualmente as concepções que se encaixam em seu objetivo principal. Ele emprega o método dialético, discorrendo criticamente sobre o teoricismo e menciona a abstração universalizante excessiva das teorias de sua época, apresentando uma fenomenologia do ato responsável e sua análise do mundo da visão estética de forma autoritária.
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