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PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

Por:   •  16/4/2021  •  Resenha  •  1.304 Palavras (6 Páginas)  •  217 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

Resenha Crítica

Carolina Lacerda dos Santos Monteiro da Silva

Trabalho da disciplina Didática do Ensino Superior

                                                                                 Tutor: Profª. Sandra Helena Mayworm

Niterói

2021

EDUCAÇÃO POPULAR E ENSINO SUPERIOR EM PAULO FREIRE

Referência:

BEISIEGEL, Celso de Rui. Educação popular e ensino superior em Paulo Freire. In: Educ. Pesqui., São Paulo, v. 44, e. 104010, 2018.

O objetivo do autor é refletir sobre o espaço que eventuais preocupações com o ensino superior ocupam na obra de Paulo Freire. De fato, Freire produziu pouco sobre a escolaridade universitária. Entretanto, defende o autor do texto, mediante análise do conjunto de seus escritos e da sua prática educacional, é possível derivar da constante preocupação com o ensino das classes subalternas, uma consideração mais abrangente com relação à ontologia, à sociedade e ao papel da educação. Deste modo, o autor do artigo acredita ser possível extrair também princípios aplicáveis à prática do ensino superior.

O texto tem dois momentos importantes: no primeiro, o autor reflete sobre as transformações que o conceito “educação popular” sofreu mormente na segunda metade do século XX; no segundo, o autor desenvolve o pensamento de Paulo Freire sobre o ensino superior, consoante o exame de seus escritos teóricos e da sua práxis educativa.

No século passado, ao menos inicialmente, educação popular era contraposta à educação das elites, como sendo a educação das maiores subalternas em contraponto à educação das minorias dominantes.

Posteriormente, a intervenção gradual e assimétrica do poder público provocou significativas mudanças, promovendo-se a inclusão dos que não tiveram um processo de escolarização infantil adequado e ampliando o acesso aos “degraus ulteriores ao antigo ensino primário”[1]. Não obstante, em meados do século XX, a intervenção na seara educacional assumiu a forma de promoção do “ensino supletivo”, no sentido de que o foco era complementar deficiências geradas pelos déficits educacionais anteriores.

Assim, “educação popular” passou a designar uma “educação escolar fundamental entendida como necessária a todos os habitantes”[2], principalmente as chamadas “classes populares”, o que além de denotar claramente o elemento de educação de controle de classe, impunha limites ao que era aceitável a maioria da população aprender.

Por outro lado, o processo de alfabetização levado a cabo no período promovia paradoxais transformações políticas, i.e., na medida que o analfabeto não tinha direito ao voto, promovia-se também uma expansão democrática das bases eleitorais. Por esta razão, o estudo das práticas adotadas no final dos anos 1950 denota uma consciência aguda de que não bastava conferir o direito ao voto: era necessário orientar os cidadãos a um determinado projeto futuro de sociedade.

A mudança do locus educacional ocorreu pari passu o deslocamento do discurso sobre a educação das elites para o ideário coletivo. Desde os primórdios do Império, e por boa parte da vida republicana, educação era tema discutido pelas elites intelectuais. A democratização do discurso sobre a educação avançou a passos lentos, antes de ser incorporado pela consciência coletiva dos desfavorecidos na metade do século XX.

Tal incorporação certamente contribuiu para a expansão da escolaridade, proporcionando o “início da ruptura dos limites que separavam a educação das elites e a educação das massas populares”[3]. Posteriormente, as reformas dos processos de escolarização, ao menos no campo legal, assimetricamente traduzido à realidade social, promoveram uma expansão de secundaristas aptos ao ingresso no escasso ensino superior, o que acabou por pressionar por iniciativas públicas e privadas para ampliação das matrículas nas instituições universitárias.

Entretanto, o processo expansivo focou muito mais na quantidade que na qualidade, tendo o Poder Público sistematicamente preferido soluções mais baratas e de menor custo, que certamente afetaram a escolarização sobretudo da população de baixa renda. Isso fica claro no contraste entre o ensino público primário e o privado e o estigma que aquele ostenta em detrimento deste último. O ensino superior seguiu paradoxalmente a mesma lógica, mas com uma importante inversão: o ensino primário privado oferta qualidade para acesso ao ensino superior público, enquanto o ensino superior privado possibilita matrícula de alunos egressos do precário ensino primário público. Para o autor, tais fatos indicam que as transformações do ensino sobejaram apenas formais, preservando-se, agora sob nova roupagem, as desigualdades inicialmente existentes entre a educação dos pobres e a dos ricos.

Em meados do século XX, durante o processo supra narrado, surgiram novos agentes cuja intervenção modificou o sentido da educação popular, mormente movimentos estudantis e ligados ao catolicismo progressista, com destaque também para o ISEB. A “educação popular” enquanto despertar de consciência, voltou-se a noções de desenvolvimento nacional. E foi no âmbito dessa transformação que exsurgiu Paulo Freire, desde os primeiros trabalhos comprometido com a prática conscientizadora e com o ensino das “populações subalternas”.

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