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Dossiê : Psicologia e Sexualidade no Século XXI

Por:   •  3/5/2017  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.822 Palavras (12 Páginas)  •  557 Visualizações

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 FICHAMENTO




                  Dossiê : Psicologia e Sexualidade no Século XXI

   Universidade de São Paulo, São Paulo-SP,psicologia em estudo 2008.

                Vera S. F. Paiva  ,Psicologia em estudo, Maringá ,pag. 6041-651: out/dez. 2008








RESUMO. O senso comum indica o psicólogo como o profissional mais preparado para trabalhar com a sexualidade. Raramente, entretanto, formamos psicólogos para lidar com a vida sexual em contextos que não sejam clínicos. Esse artigo sintetiza uma crítica às abordagens “sexológicas”, dominantes no século XX, argumentando que a abordagem “construcionista”, ao  desconstruir a  heteronormatividade e  a  subordinação da  mulher  como  naturais,  validou-se como paradigma alternativo de grande relevância para a pesquisa e a prática de profissionais que abordam a sexualidade. O construcionismo interpretou melhor novos desafios, como a epidemia da Aids, especialmente em contextos de desigualdade e violação de direitos, inspirando a prevenção baseada na análise de gênero e compreensão de cenários, cenas, scripts e trajetórias de sujeitos sexuais. O trabalho dos psicólogos será beneficiado se sua formação redescobrir a sexualidade, repensar a sexologia, superar abordagens baseadas em valores pessoais e em psicologias com pretensões universalistas, ao menos no campo da sexualidade.

Palavras-chave: sexo,prevenção, construcionismo social.


                                      

































                               A CENA DA INFECÇÃO PELO HIV         (2008, p. 642)


“Não  é  incrível?  No  momento em que  eu peguei o vírus da AIDS, eu não estava ali me contaminando... era muita paixão! Foi um momento de alegria, de prazer, tanto tempo desejado... Prazer corporal, mas espiritual também. Queria viver aquele meu amor, repetir outros momentos, iguais àquele” (L.,1987).

- [...Ainda se associava a epidemia do HIV aos chamados “promíscuos” - homossexuais, usuários de drogas, trabalhadores do sexo, africanos e haitianos- com a contribuição  direta  de  profissionais  e  pesquisadores que usavam sua autoridade tecno-científica para construir esse sentido da AIDS, inclusive na mídia...]

                                        (2008,p. 642 3° parágrafo)


‘’Ampliando a cena de infecção que L. exemplificava, minha imaginação ativa escancarava os simbolismos e o panorama social da epidemia que crescia, como numa intuição das iniciativas que deveríamos  produzir  para  prevenir  sua  expansão’’.

                        Nas palavras L. (2008, p. 642 4° paragrafo)

                             Quando  pegamos  Aids  não  estamos  pegando

                                       Aids, estamos fazendo outra coisa...”.




       Psicológicos focalizariam o “desejo”, a “defesa”, “negação”, “culpa”, “resiliência”, “atitude”, “crença”, “identidade”, “fatores de risco”. E o Sexo? Estamos formando profissionais para abordar a atividade sexual nos termos em que acontece na vida cotidiana, especialmente  em  contextos  de  pobreza  e desigualdade,   ou   para   trabalhar   no   contexto   do Sistema   Único   de   Saúde   (SUS),   na   escola,   no ambiente de trabalho, na comunidade?

               Nas palavras L. (2008, p. 643 6° paragrafo)

O SÉCULO DA SEXOLOGIA

John Gagnon e Richard Parker, na introdução do livro considerado um divisor de águas nesse campo (Conceiving Sexuality, 1995), dataram o primeiro período desse empreendimento de 1890 a 1980 nomeando-o de “sexológico”. Segundo os autores, o período sexológico se iniciou com poucos pesquisadores e ativistas buscando trazer o discurso sobre a sexualidade para o campo da produção científica e secular, empreendimento cuja história mais longa  Michel  Foucault  traçou  até  o  conjunto  de crenças médicas que normatizavam o controle dos impulsos   sexuais   no   século   XIX.   Os   autores identificam Freud (e seguidores), Ellis, Hirschfeld, Malinovsky, Stopes, Reich, pesquisadores do Instituto Kinsey, Margareth Mead, Masters & Johnson como os principais teóricos nesse período.

                              (2008, p. 643 9° paragrafo)

      As  “descobertas”  do  período  sexológico resultaram em modelos clínicos de intervenção operados por psicólogos, médicos e psicanalistas até hoje.   Os   autores-heróis   acima   identificados   por Gagnon & Parker, por exemplo, dedicavam-se à saúde mental  e,  depois  dos  anos  60,  passaram  a  tratar também da “saúde sexual” - a normalidade biológica teria sido “revelada” pelo laboratório e a normalidade estatística pelas pesquisas sobre crenças, atitudes ou práticas sexuais de populações e grupos.

                               (2008, p. 643 12° paragrafo)

Na  esfera  da  sexualidade,  importante  ressaltar, uma das grandes contribuições do período sexológico para  a  mudança  social  foi  naturalizar  o  prazer  no mundo de tradição judaico-cristã, legitimar a sexualidade  independente  da  reprodução,  separação que a pílula anticoncepcional massificou. Também descrever - como fizeram Kinsey e a epidemiologia comportamental ou a psicologia social de inspiração sócio-cognitivista pós-Aids - a prevalência maior e insuspeitada de certas atitudes e práticas sexuais. O prazer pôde emergir como “verdade revelada” sobre a natureza do sexo, natureza que a sociedade ocidental teria reprimido e que as sexologias poderiam des- reprimir ou tratar como “disfunção.

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