Resenha Critica do Livro o Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu
Por: Analine Santos • 24/2/2020 • Resenha • 2.421 Palavras (10 Páginas) • 1.205 Visualizações
Sacks, Oliver W., 1933. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu e outras histórias clinicas 1° ed. In: Oliver Sacks; tradução: Laura Teixeira Motta – São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 297 p.
Resenha Critica
Analine Silva dos Santos
Oliver Wolf Sacks nasceu em 1933, em Londres, em uma família de médicos (a mãe era cirurgiã e o pai clinico geral). Formou-se em medicina em Oxford, Inglaterra e depois mudou-se para os Estados Unidos para dar continuidade aos seus estudos médicos, onde tornou-se professor de neurologia e psiquiatria na Universidade Columbia. É autor de conceituadas obras literárias, dentre elas estão: “Um Antropólogo em Marte”, “Tempo de Despertar” e “O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, que particularmente julgo ser a mais conhecida e mais comentada, pois abrange as áreas de psicologia e medicina.
Em “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, obra publicada em 1985, relata vários casos clínicos de seus próprios pacientes, que tiveram algum tipo de lesão ou algum mau funcionamento do cérebro, especificamente no hemisfério direito, pois ele afirma que as síndromes desse lado do cérebro são menos distintas, do que os danos ocorrido no hemisfério esquerdo, isto acontece porque as lesões ocorridas no hemisfério direito do cérebro, afetam os movimentos, a parte física do ser humano, já as lesões causadas no hemisfério esquerdo afetam o aprendizado e a memória. Alguns casos relatados nesse livro, leva o leitor a questionar sua própria percepção, sua personalidade, a noção dele próprio (mais conhecido como propriocepção), comprovando que o cérebro é capaz de criar realidades e de adaptar-se a essas realidades.
A primeira parte dessa obra maravilhosa, intitulada como “Perdas”, conta a história de nove pessoas que foram pacientes do neurologista Sacks, (vale lembrar que algumas dessas histórias foram contadas com a autorização desses pacientes) e que perderam literalmente algum sentido, movimento ou até mesmo a propriocepção.
O primeiro caso a ser relatado é o do dr. P. “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, era um músico excelente, além de cantar muito bem era também um ótimo professor de música em uma universidade local, foi ali, se relacionando com seus alunos, que começaram surgir os sintomas. Dr. P trabalhava normalmente sem notar qualquer problema, até que um dia um de seus alunos apresentou-se e ele não o reconheceu, foi necessário que esse aluno falasse para que através da voz ele o reconhecesse, e isto foi se multiplicando cada vez mais, pois ele também via rostos onde não existiam, em objetos por exemplo, como aconteceu uma certa vez: ele passou a mão em um hidratante pensando ser a cabeça de uma criança. Depois de três anos doente de diabetes, ele começou a achar que estava ficando cego, foi ao oftalmologista e o médico lhe garantiu que não havia problema algum em sua visão e disse que o problema dele poderia ser neurológico. Foi nesse momento que o dr. Oliver Sacks entrou em cena, começou a conversar com ele e a fazer alguns exames, depois deu o diagnóstico: dr. P sofria de uma, dos vários tipos de agnosia- que é um déficit neurológico que não permite ao cérebro reconhecer objetos pela visão, a dele era a agnosia visual associativa o cérebro “enxerga” perfeitamente o objeto, as formas desse objeto, mas não encontra o seu significado, é como se o cérebro não tivesse mais acesso a uma biblioteca com informações sobre imagens.
Outro caso bastante interessante é do “marinheiro perdido”, que é o segundo do livro, um operador de rádio em submarinos durante a Segunda Guerra mundial, Jimmie lembrava tudo que acontecera no passado e revivia esses momentos ou seja falava como se estive voltado ao tempo, até a idade ele respondeu que tinha a idade de quando entrou na marinha. Acontecimentos recentes não conseguia lembrar, pois era como se tivesse tido um lapso de memória recente, também não reconhecia ninguém, somente seu irmão. Diante de tantos acontecimentos seu diagnostico final foi a síndrome de Korsakov- que vem associada a outras patologias, provocada pelo alcoolismo. Jimmie também ingeria bastante bebida alcoólica.
“A mulher desencarnada” eu diria que seria o caso mais perturbador, pois trata-se de uma mulher ativa, mãe de dois filhos, forte de corpo e mente, mas, um certo dia precisou de cuidados médicos devidos à fortes dores que sentia no abdômen. Ao ser examinada, descobriu que se tratava de cálculos biliares, (pedras na vesícula) o que lhe causava muito mal-estar. Em uma conversa com o médico, ele disse que seria necessário a retirada da vesícula biliar através de um procedimento cirúrgico, mas, o que parecia algo normal, causou em Christina uma inquietação muito grande. Já internada, dias antes da cirurgia, passou pelos procedimentos pré-operatórios, e ao adormecer após esses procedimentos, sonhou que estava insegura das pernas, mal sentia o chão sob seus pés, quase não conseguia sentir as coisas nas mãos, que deixava cair tudo o que ela tentava segurar. Quando acordou contou ao médico sobre o sonho que teve, e ele a tranquilizou, apesar de preocupado, mas, informou que seria normal este comportamento pois era uma situação diferente para ela. Para a surpresa de Christina e também dos médicos, inclusive de um psiquiatra, seu sonho se tornou real, seus comandos de voz, seus movimentos de pernas, braços e visão já não correspondiam ao normal. Para entender o que se passava com ela, Dr. Oliver Sacks e outros médicos reavaliaram a mesma desde seu primeiro diagnóstico e perceberam que ela sofria de uma neurite, que num quadro de ansiedade fora do comum, pode causar sérios danos nas células sensoriais de Christina, como por exemplo, a perda da propriocepção, que seria a falta da sensibilidade própria aos ossos, músculos, tendões e articulações e que fornece informações sobre o equilíbrio, o deslocamento do corpo no espaço, fazendo com que ela não se sentisse mais dentro de si mesma.
O quarto caso do livro conta a história de um homem que caía constantemente da cama do hospital onde estava internado. Era um paciente que tinha uma arritmia cardíaca muito comum, que habitualmente provoca batimentos cardíacos acelerados e irregulares conhecido no meio da medicina como fibrilação atrial e tinha sofrido um AVC que deixou algumas sequelas. Uma dessas sequelas era o que fazia com que ele caísse da cama, pois ele achava que tinha uma outra perna que não era a dele ao seu lado. Os médicos intrigado com essa situação resolveram examina-lo, e foi constatado que esse paciente era um exemplo de perda completa da consciência de seu membro hemiplégico.
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