CONTRACORRENTES EM TEMPOS DE TEMPESTADES: O PENSAMENTO DE JANE ADDAMS E DE MARY RICHMOND NO SERVIÇO SOCIAL/ MARIA IRENE DE CARVALHO

No texto Contracorrentes em tempos de tempestades: o pensamento de Jane Addams e de Mary Richmond no Serviço Social, a autora Maria Irene de Carvalho busca discutir a contribuição das personagens da história citadas acima no processo de profissionalização e no Serviço Social no todo, como delinear a especificidade da profissão, inserido no contexto social da época, apontando semelhanças e diferenças dos pensamentos das autoras.

Delimitando-se mais aos EAU, foi traçado o contexto social do final do séc XIX para início do século XX, a considerar que as presentes personalidades eram americanas e nascidas no séc XIX, respectivamente, 1860 e 1861. No tempo/espaço citado os EUA sofriam com diversas mudanças, como o intenso fluxo migratório para as cidades dos EUA, decorrente da rápida expansão industrial - industrialismo -, o que de se deu em um urbanismo acelerado; e, um fator primordial foi a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, que tinha como característica o crescimento de problemas sociais associados a polarização da pobreza, como a violência, os crimes; a época ainda contava com o surgimento de movimento sociais, como movimento dos trabalhadores e o movimento feminista que permitia que as mulheres tivessem mais voz na sociedade. Mesmo numa sociedade marcada pela face negativa da ascensão do capital, a preocupação do país estava em “compreender como coexistir na diversidade cultural (GALLEGO, 2009, p. 25-26).” Sendo os EUA um país preocupado em preservar a democracia, buscam intervir promovendo reformas sociais neste espaço de conflitos, que era a cidade, transformando esta num campo de observação e de ação, o que favoreceu o desenvolvimento do Serviço Social.

O período de modernização também é marcado por diferentes formas de racionalizar a experiência (CONDE, 1998), que são associados a quatro tipos de instâncias: o industrialismo, o capitalismo, as instituições de vigilância e o Estado-nação. De acordo com a autora (op. cit, p. 14) este desenvolvimento está associado ao "surgimento dos primeiros estudos sobre a pobreza, que concluíam que este era um dos problemas centrais da sociedade industrial". Diante da questão social, o estudo da pobreza é apoiado principalmente em duas bases teóricas e ideológicas distintas, na qual uma se associa ao socialismo ético, onde destaca que o Estado deveria atuar no desenvolvimento social e no bem-estar através da construção de serviços públicos e desenvolvimento de estudos de políticas sociais. Já na outra posição, entendia-se que o Estado não deveria intervir, pois esse papel cabia a alguma instituição privada laica, ou religiosa e através do papel do trabalho voluntariado. Por conseguinte, essas duas concepções influenciaram a sociedade americana, que usufruiu potencializando ações mistas, assim, “Neste contexto o Serviço Social construiu-se na relação entre: I) “o cuidado e a atenção ao outro” - dignidade humana; II) desenvolvimento e progresso, bem-estar e III) o controle e ordem social.” (CARVALHO, 2012, P. 161)

A partir de tal conjuntura, Carvalho, traça um paralelo entre a trajetória pessoal e profissional de Jane Addams e de Mary Richmond. O inconformismo, ou pode-se dizer, a preocupação com a sociedade foi inserida de forma diferente na vida das duas autoras; Addams sempre teve contato com a política, em decorrência da vida do pai que era político, ao viajar pela Europa conheceu a ação social dos Settlements, que eram mais associados a visão religiosa. Ela fundou centros comunitários, que faziam a ligação entre a classe-média e os trabalhadores, diferentemente das COS não eram impregnados de valores religiosos; no campo político Addams, defendia a proibição do trabalho de menores, o limite de horas do trabalho feminino, o desenvolvimento de medidas de prevenção de risco e de doenças no trabalho; e lutava para que a ação do Serviço Social fosse política, mas não

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