Crise dos mísseis e as teorias das relações internacionais
Por: Luciana Miranda • 24/9/2015 • Trabalho acadêmico • 5.024 Palavras (21 Páginas) • 1.384 Visualizações
1. INTRODUÇÃO
Após a Segunda Guerra Mundial (1940-1945) o mundo ficou dividido ideologicamente em dois polos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América (EUA) e o socialista, pela União Soviética (URSS).
Durante o período que se estendeu até a queda da URSS em 1989, uma série de conflitos descentralizados ocorreram ao redor do mundo, em geral, esses acontecimento estavam envolvidos de alguma forma com as ideologias antagônicas. Contudo, apesar das divergências entre EUA e URSS nunca houve um conflito direto entre as duas superpotências. Essa era a lógica da Guerra Fria.
Nesse sentido, o episódio que representou um dos momentos mais delicados da Guerra Fria devido ao perigo iminente de uma terceira guerra mundial - causada pela deflagração de um conflito nuclear direto entre os dois blocos - foi a Crise dos Mísseis de Cuba.
A Crise de Cuba aconteceu em 1962 quando a URSS instalou mísseis apontados para os EUA no território cubano. Nesse sentido, será objetivo deste trabalho uma análise a cerca dos “treze dias que abalaram o mundo” sob algumas perspectivas teóricas das Relações Internacionais (RI).
Em um primeiro momento, será feita uma abordagem histórica a cerca da crise, uma vez que é essencial conhecer os fatos para que se possa enquadrá-los nas teorias. Em seguida, a Crise dos Mísseis será explicada a partir da perspectiva dos EUA por meio de duas teorias: o liberalismo clássico e a realismo clássico, duas teorias do mainstream das RI, capazes de criar discussões com pontos de vistas antagônicos acerca da política internacional. Segundo Colim Elman: “even its harshest critics would acknowledge that realist theories, with their focus on power, fear and anarchy, have provided centrally important explanations for conflict and war” (ELMAN, 2008 p.15.). Ademais, o realismo consolidou-se como um sólido paradigma de Política Internacional durante a Guerra Fria.
Depois, serão desenvolvidas duas análises sob o ponto de vista da URSS: uma realista e outra por meio da Teoria Crítica. A escolha da Teoria Crítica se da pela influência do pensamento marxista na construção dos seus postulados, uma vez que este também influenciou os soviéticos no engajamento para a revolução socialista.
2. PERSPECTIVA HISTÓRICA DA CRISE DOS MÍSSEIS
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, teve então início a Guerra Fria (1947-1989). De um lado, os seguidores da ideologia capitalista, os EUA, e de outro os socialistas da União Soviética. O armamento das duas potências mundiais era enorme e com elevada capacidade de destruição que de certa forma impedia um confronto direto entre elas.
Apesar do grande poder belicoso dos seus dois principais participantes, não houve, de fato, um conflito armado direito entre eles. O clímax das tensões foi certamente a crise dos mísseis em Cuba. Como foi destacado em um artigo publicado na revista Veja de Outubro de 1962: “A instalação de mísseis nucleares numa ilha quase grudada à Flórida foi, sem dúvida, a mais ousada jogada que alguém seria capaz de imaginar” e também pelo autor Joseph Nye: “Esse período de treze dias foi provavelmente a situação mais arriscada da era nuclear considerando um conjunto de acontecimentos que poderiam ter levado a uma guerra nuclear” (NYE, 2009 p.182).
Neste período, todos os olhos se voltaram para a situação em Cuba, que apesar do seu pequeno território se constituía como uma séria ameaça aos interesses políticos e ideológicos americanos, dado seu alinhamento com os soviéticos e sua proximidade territorial com os EUA. A questão dos Mísseis de Cuba começou como uma resposta à tentativa de invasão à Baía dos Porcos, em abril de 1961, por parte dos EUA. Após esse incidente, Fidel Castro se aproximou ainda mais do bloco socialista. Dessa nova aliança, nasceu um plano que materializou uma das maiores crises políticas da Guerra Fria.
“É imperativo lembrar que o inimigo apareceu na janela ao ser atraído pelo próprio presidente. Foi com seu papel na fracassada invasão à Baía dos Porcos, em abril de 1961, que Kennedy ofereceu de bandeja a melhor desculpa possível para Castro e Kruschev – a de que era preciso armar a ilha para evitar outra tentativa de invasão a Cuba” (REVISTA VEJA, 1962).
Segundo relatos, aviões espiões americanos sobrevoaram a ilha de Cuba em busca de informações sobre o local, retornaram com uma série de imagens do que parecia ser uma nova base militar. Após um estudo detalhado das imagens, as autoridades norte-americanas descobriram que os soviéticos estavam instalando diversos mísseis capazes de carregar ogivas nucleares em Cuba.
O apoio soviético ao governo cubano se deu devido, além do alinhamento ideológico, pelo fato de sua própria segurança se apresentar ameaçada pela postura assertiva americana. Os Estados Unidos possuíam mísseis nucleares na Turquia, gerando desconforto aos soviéticos. A existência de uma base nuclear na região causava preocupação pela possibilidade de um ataque por meio desta posição muito privilegiada.
Apesar das movimentações de caráter agressivo de ambos os lados, as tensões que atingiram um ápice foram mitigadas finalmente. Entre os dias 16 e 29 de outubro de 1962, houve uma intensa negociação com o objetivo de conter a ameaça de uma guerra nuclear. Após diversas rodadas, os soviéticos chegaram à decisão de retirada dos mísseis apontados para a potência capitalista, e os EUA secretamente abriram mão da base nuclear instalada na Turquia.
3. ESTADOS UNIDOS
a. REALISTA
Partindo de visão realista acerca da Crise dos Mísseis e, levando em consideração o acontecimento pela ótica dos Estados Unidos, o episodio teve como um importante precedente histórico a Revolução Cubana, fato que representou uma perda da hegemonia e influencia dos Estados Unidos no continente americano, região que era majoritariamente controlada pelos seus interesses.
A Revolução Cubana em 1959 foi apoiada pela União Soviética, seguindo a mesma lógica do pensamento socialista que deu origem a Revolução Russa de 1917, esse ideal foi justamente ao que os EUA se colocaram como antagônicos e que se propuseram a conter, de acordo com a sua política externa durante os anos da Guerra Fria. A política de contenção do comunismo, levada a cabo pelos EUA, foi por água abaixo em Cuba, ameaçando a zona de influencia norte-americana.
A Revolução Cubana de 1959 foi responsável por derrubar um regime ditatorial liderado pelo General Fulgêncio Batista, apoiado pelo Governo dos EUA. O Governo Batista favorecia claramente
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